O tenente-coronel Mauro Cid não assumirá o cargo para o qual foi nomeado enquanto o inquérito no qual ele é investigado no Supremo Tribunal Federal estiver em andamento.
A declaração, dada ontem pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, foi uma forma de aliviar a pressão sobre o novo comandante do Exército, general Tomás Paiva.
Paiva substituiu o general Júlio César Arruda, cuja destituição teve como gota d’água precisamente o fato de ele resistir ao pedido de Lula de suspender a nomeação do ex-assessor de Jair Bolsonaro para o comando do 1º Batalhão de Ações de Comandos em Goiânia.
Lula não pediu ao ministro Múcio que “resolvesse” o caso Cid porque o militar responde a um inquérito criminal no STF, mas porque considerou um risco e um desaforo ter no comando de um batalhão de ponta, localizado a 200 quilômetros do seu gabinete em Brasília, o ex-principal ajudante de ordens de Bolsonaro.
Arruda não quis “desnomear” Cid. Agora, ao herdar seu cargo, Tomás herdou também esse abacaxi.
A suspensão da nomeação do tenente-coronel por motivo não funcional desagrada inclusive generais do Alto Comando do Exército, a cúpula da Força.
A anunciada suspensão da nomeação de Cid a pretexto de um inquérito a que ele responde desde setembro do ano passado pode não ter convencido os militares, mas tirou temporariamente um peso dos ombros do general Tomás. E se Múcio trabalha para aliviar a carga do novo comandante é porque sabe que ela está pesada.
Tomás assume o comando do Exército sob um intenso e explícito bombardeio de uma ala de tenentes, capitães, majores e coronéis — e também sob a discreta contrariedade de um grupo de generais quatro estrelas.
Embora tenha sido um dos autores do tuíte contra Lula divulgado pelo ex-comandante Eduardo Villas Bôas em abril de 2018, o general Tomás, como é conhecido, é visto por parte dos oficiais da Força como um “esquerdista”.
Nos grupos de WhatsApp desses oficiais, circulam em ritmo frenético textos apócrifos com críticas a posições políticas e ações pessoais do general.
Trata-se de uma movimentação inédita. Nos últimos quatro anos, o Exército teve quatro trocas de comando. Em nenhuma das anteriores houve reação de tamanha intensidade contra o general nomeado.
A performance do Exército nos episódios de 8 de janeiro fez Lula, como ele mesmo declarou, “perder a confiança” em militares. Diante disso, o presidente determinou a correção de rumos, a começar pela substituição de Arruda, indicado pelo critério de antiguidade, por Tomás, ex-comandante da maior tropa do Exército (o Comando Militar do Sudeste) e supostamente mais alinhado ao governo.
Troca feita, agora é preciso resolver o problema de baixo.
Assim como Lula agiu para enquadrar os generais, o general Tomás, dono de propalada habilidade política, terá de agir para enquadrar seus oficiais.
Como disse o ministro Múcio, o novo comandante tem “costuras internas a fazer”. E o cenário atual do Exército mostra que oportunidades para testar a destreza do general com as agulhas não faltarão.