O TCU reprovou o recebimento de relógios presenteados a Bolsonaro e equipe em viagem ao Qatar. Mas não mandou devolver, seja no original, seja em espécie. “Converteu [a reprovação] em ciência, em atenção ao caráter pedagógico da presente ação”; apenas isso, um tapinha da avó carinhosa na mãozinha do netinho peralta. O TCU mostrou, “em caráter pedagógico”, sua/dele irrelevância e inutilidade.
Os ministros são políticos na origem; o relator Antonio Anastasia foi governador de Minas como vice de Aécio Neves, e nomeado ao TCU enquanto exercia o mandato de senador. O caráter pedagógico de cumprir a lei que proíbe presentes de alto valor nunca foi respeitado por qualquer político, antes ou depois de assumir nos tribunais de contas.
Ao decidir fazendo opcional o ilegal, os ministros do TCU revelaram seu complexo de culpa. Suas excelências bem que podiam ter consertado a impostura, dourando ainda mais a pílula, e informar aos ingênuos contribuintes que os acompanhantes de Bolsonaro, inclusive o próprio, cada qual recebeu um Enrolex. Sim, aqueles vendidos por marreteiro, que enganam até a – outra – gangue do Rolex.