A expressão não é nova, teve voga no áureos e límpidos tempos da Operação Lava Jato. Antes preciso explicar de onde trouxe os confrades e a confreiras: passeava numa das academias de letras de Curitiba e lá estava o edital do presidente, na época o desembargador Luís Renato Pedroso, convocando aquilo que chamava confrades e confreiras. Os vocábulos não estavam errados, sim antiquadíssimos, cobertos por variadas camadas de pó e traças no dicionário. Fosse um juiz petista, como agora maldizem o juiz da moribunda Lava Jato, seria companheiros e companheiras.
Voltamos ao “acervo pessoal”, que Jair Bolsonaro reabilitou (!?) no caso das joias e dos presentes de Estado. Acervo pessoal é patrimônio, puro e simples. Aquilo que podemos comprar, vender, emprestar, ganhar de presente e até destruir, como os romanos ensinaram. No sistema capitalista de proteção da propriedade, todos têm assegurada a propriedade de seus bens. Muda apenas o titular, e apenas no nome – e algumas vezes na relação com a polícia. Por exemplo: o patrimônio do pobre pode ser sua casinha, paga a duras penas, ou o Chevette caindo aos pedaços.
Acontece que ninguém chama acervo pessoal ao patrimônio do pobre. Não raro a polícia invade a casa do infeliz e implica que aquilo foi roubado. Mas depois das bordoadas e do eletrochoque acaba valendo como patrimônio. Até o ladrão pode ter patrimônio, desde que prove que comprou legalmente e com dinheiro honesto. Difícil, não impossível. Então o que é acervo pessoal? Simples: é o produto do roubo de um ladrão especial e importante, que chamaríamos de “o primeiro ladrão do Brasil”, assim como o presidente ou a primeira dama.