As pesquisas mostram o descontentamento com o governo Lula. Se continuar assim serão quatro anos de sofrimento, o mesmo tempo que Bolsonaro nos oprimiu. Como o descontentamento com o Mito não foi tão rápido e intenso como com Lula, a conclusão é que o brasileiro gosta de sofrer e apanhar. Lula sofre pela reversão da expectativa dos que acharam que a destruição do Mito seria corrigida mais rápido que o conserto dos palácios atacados por sua turba de fanáticos e o trágico desmantelamento da administração pública.
Quem cobra de Lula resultados rápidos tem que entender como o Brasil funciona: nenhum presidente governa sem pagar a taxa de proteção a deputados e senadores; paga a taxa, o presidente pode fazer o que bem entender, até matar á míngua índios, deixar sem vacina os milhares que serão levados pelo covid e patrocinar a devastação da Amazônia. Foi assim no Mensalão, no Petrolão, no Bolsolão, situações inevitáveis pelo sistema do presidencialismo de coalizão, em que os partidos políticos negociam a preços não republicanos.
Neste terceiro mandato, Lula recorre aos mesmos cobradores e à mesma taxa, mas com um aceno da sorte. Por exemplo: o chantagista mor, Arthur Lira, presidente da câmara dos deputados, ensaiou encenar um Eduardo Cunha com fumos de santidade e se estrepou com sua base, o Centrão, que entrou em processo de colapso. Outro exemplo é o castigo auto infligido de Jair Bolsonaro, o beócio que governou como se não houvesse um amanhã – e, se houvesse, seria radioso, e só para ele.
Alguém disse na imprensa que o único inimigo de Lula é ele mesmo. Bela frase, que ignora a multiplicidade de forças que induzem um presidente a se perder ao optar pelo rumo que se revela mutável e instável. O chefe de Estado precisa do fluido atributo que Napoleão exigia de seus generais: a sorte, que é instável, haja vista o que aconteceu com o próprio Napoleão, um general precoce que abusou dela. O que se pode esperar de Lula é a sorte generosa e pródiga, pois general consumado ele sempre foi.