Não que eu não queira desejar um dia bom para quem está fora do Twitter
Bom dia a todes os haters do Twitter (não que ao dizer “bom” eu esteja afirmando que sou contra a importância, até mesmo anímica, de assumir tudo o que é ruim, ou de respeitar a palavra “ruim”, ou de existirem dias ruins ou qualquer dia; não que eu tenha algo contra o filósofo pessimista Arthur Schopenhauer; não que eu não entenda que Schopenhauer é muito mais do que a reles simplificação de chamá-lo de pessimista; não que coisas simples não possam ser boas; não que coisas simples não possam ser ruins –até porque nem tudo que é ruim é ruim–; não que eu tenha algum tipo de xenofobia com quem mora na Ásia ou na Oceania por estarem agora no período noturno; não que ao dizer “todes” eu não esteja englobando todos e todas; não que eu não acredite que para além de todos, todas e todes exista ainda mais coisa no mundo do que supõe nossa vã filosofia; não que eu esteja segregando desta conversa quem não entende ou não gosta de filosofia; não que eu não queira desejar um dia bom para quem está fora do Twitter, ainda que eu respeite totalmente que a pessoa dentro ou fora ou em cima do Twitter não possa desejar um dia ruim para si mesma e para outrem ou quiçá para quem ainda nem nasceu; não que eu seja a favor de todo nascimento; não que ao começar todas as frases com “não” eu não seja a favor do sim ou do talvez).
Gostaria de dizer que sou humana (não que ao preterir o uso do pretérito imperfeito “gostava” eu assuma que tenho algo contra o uso do pretérito ou do passado, até porque um país que joga pra baixo do tapete seu passado escravagista e ditatorial é um país sem memória e portanto uma nação que pode muito bem repetir atos bárbaros; não que eu tenha algo contra a palavra imperfeito, porque é justamente para as nossas falhas que devemos concentrar esforços; não que eu ache que todo mundo precisa ser funcional, pois acredito ser indefensável a máquina opressiva do neoliberalismo; não que eu esteja falando especificamente de você ao dizer que você tem falhas, estou falando de todos, ainda que eu respeite a pessoa que não queira pertencer ao grupo das pessoas, dos todos ou todas ou todes ou dos humanos; não que ao escolher usar o futuro perfeito de forma condicional “gostaria” eu esteja dizendo que acredito num futuro perfeito, o que seria totalmente alienante perante a emergência climática; quando digo que quero dizer algo, não quero silenciar qualquer pessoa que queira falar, que não queira falar ou que não possa falar porque 1. está com a boca cheia –não que eu esteja afirmando que falar de boca cheia é falta de educação–, 2. tem deficiência em órgãos ou regiões emissores de sons, 3. está fazendo um retiro de silêncio; não que ao dizer que “eu sou” eu queira excluir do debate –e respeito quem prefira chamar de “discussão”, ou ainda de “conversa”, por acreditar na potência pejorativa do verbete “discussão”– as pessoas que preferem nem ser ou não ser, ou se acham, ou acham que quem diz “eu sou” está se achando, ainda que eu ache que uma mulher se achar, em um país com tanto feminicídio, é um ato político; lembrando que respeito quem não quer trazer a política para o debate; não que ao dizer que “sou humana” eu esteja querendo ofender a inteligência artificial ou a febre entre os colunistas e jornalistas de falar sobre ChatGPT; não que, caso você tenha de fato uma febre relacionada a alguma inflamação, eu esteja de qualquer forma diminuindo qualquer pessoa com problemas relacionados à saúde, e não que seja de meu interesse ou aptidão profissional dizer se você está ou não com febre).
E, portanto, mandá-los à merda.