O meu saudoso compadre e guru, Jamil Snege, sempre genial, foi o primeiro a detectar a sagrada arte de ser invisível em Curitiba… Prova disso experimentei em Sampa durante a festa que agitou o Museu da Língua Portuguesa, em torno do Prêmio São Paulo de Literatura.Visíveis lá estavam mais “curitibanos” do que sonha nosso atávico enrustimento.
Não deu outra e nem esperávamos coisa diferente. Como devem saber, o quase-conterrâneo Cristóvão Tezza, com seu já infinito O filho eterno levou o prêmio na categoria “autor veterano” e a graciosa Tatiana Salem Levy na de “autor estreante”. Desconheço A chave da casa, da luso-brasileira, e tenho restrições ao romance de Tezza. Não é o melhor dele, em minha opinião abalizada pela leitura de quase todos os seus livros. Depois do insuperável Trapo, livro de estréia, juvenil, mas de uma beleza e graça arrebatadoras, nos deu O fotógrafo, outro grande momento deste “curitibano” de Lages… Em O filho eterno o que temos é o dramalhão de um pai de filho excepcional. Nada além disso. O livro, como se sabe, ganhou todos os prêmios literários brasileiros deste ano. Em premiação, coisa aliás duvidosa e relativa, Tezza superou Milton Hatoum, escritor da vez há dois anos com Cinzas do norte. 3 prêmios então para Hatoum, e, agora, 5 para Tezza…
Sou insuspeito, apesar de um dos cinco finalistas do São Paulo, o maior prêmio literário brasileiro, ao lado de Bernardo Carvalho, Beatriz Bracher, Menalton Braff e, óbvio, Cristóvão Tezza. Em noite digna da Paulicéia, nunca fomos tão badalados: vídeos, paparicos, menções, aplausos. Sim, insuspeito, pois manifestei ao próprio Tezza, com a franqueza de amigos cordiais, o que me incomoda no livro. Embora reconheça que estava na hora de a sua “trajetória” ser premiada.
Ainda que pertencendo ao guruato de Jamil Snege (né mesmo, Dante Mendonça?), eu e Tezza – fazem de nós, aliás, um inexplicável “fla-flu” -, não nos vemos quase nunca em Curitiba. Mas lá conversei longamente com o escriba lageano. E tive o prazer, em Sampa, nunca em Curitiba onde somos invisíveis!, de lhe dar sincero abraço. E também, ora direis, no meu ex-íntimo amigo José Castello, que se tornou assim uma espécie de jurado profissional, ele que é um talentoso escritor.
A se empenhar, claro, pelos mais chegados, que Castello, quando amigo, é de uma fidelidade à toda prova. Isso posso provar… Mas tudo são as invisibilidades, o compadrio no qual me incluo, e a mediocracia deste país também irrecuperável no terreno das artes. Como diz o poetaço Batista de Pilar: “Meus amigos são mais interessantes/que uma manada de elefantes”. Êta nóis! Um dia nóis se recupera.
7/12/2008 O Estado do Paraná