O Google aumentou a confusão nas redes sociais

Ficou evidente a disparidade entre a engenharia técnica e a engenharia política

A publicação de uma frase na página do Google gerou confusão na internet. “O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”.

Não se sabe o que a gigante de tecnologia entende como “PL”. Caso a sigla se refira ao Partido Liberal, a frase tem seu sentido esclarecido e não precisa de maiores explicações. Mas existe a remota possibilidade de se referir ao projeto de lei 2630. Ou ainda a uma pessoa chamada Pedro Luiz, cuja abreviação também poderia ser PL.

Tampouco se sabe o que o Google classifica como “aumentar a confusão”. Ficou confuso. Quer dizer então que a empresa reconhece que existe uma “confusão”? Bom, se existe uma confusão (e essa confusão pode ser aumentada), o Google é responsável sim por viabilizar soluções. Ou fica parecendo que a empresa quer apenas aumentar a confusão com um posicionamento como esse.

Não se sabe sequer se é verdade ou mentira que “O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”.

O que se sabe é que o algoritmo do Google contribui pra “aumentar a confusão”. Quem coloca “Garota de Ipanema” no YouTube em busca de uma playlist de Bossa Nova vai acabar caindo num vídeo escandaloso que acusa Tom Jobim de manipular porquinhos-da-índia geneticamente para financiar a Ursal e torturar crianças quatemaltecas. Isso é “verdade” no Brasil e no mundo.

A treta move as redes sociais, desde que as redes sociais não sejam o alvo da treta.

Em abril, Eduardo Bolsonaro partiu pra cima do deputado Marcon (PT-RS) quando o petista insinuou que a facada de Jair Bolsonaro foi fake. Depois de apartada a briga, Eduardo gritou “Tu acha que tu tá na internet?”.

Na internet sem lei, tudo pode. Eduardo sabe disso.

Na internet com lei, é justo que se remunere quem produz os programas de TV, filmes, músicas e reportagens que as redes sociais exibem (e lucram). E que alguém se responsabilize pelas fake news.

O Google jogou uma cartada política contra a aprovação de uma lei que aumenta seus custos e responsabilidades. É legítimo, claro, ampliar o debate.

O que ficou evidente foi a disparidade entre a engenharia técnica e a engenharia política do Google. Faltou tato humano.

É preciso melhorar o debate para que os avanços apareçam. E rapidamente.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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