Além de inelegibilidade e prisão, Bolsonaro pode se tornar um cabo eleitoral tóxico
Jair Bolsonaro pode se queixar de qualquer coisa, só não pode dizer que a cigana o enganou. O destino de infortúnios foi traçado por ele quando optou por dar asas ao seu “jeito de ser”.
Mobilizou demanda reprimida na sociedade, soube enxergar bom mercado de votos e assim conseguiu o que nos idos iniciais de 2018 parecia impossível. Não sendo bom estrategista, desconsiderou a cena adiante de um mandato presidencial. Cometeu, e/ou deixou cometer, uma gama enorme de ilícitos, afrontou a institucionalidade sem pensar nas consequências.
E elas agora vêm a galope. A mais recente, sobre a muito provável conivência (para dizer o mínimo) na fraude de cartões de vacinação da Covid-19, é só mais uma complicação da já complicadíssima vida do ex-presidente com questões legais e o rebatimento delas na esfera política.
A urdidura operada pelo então ordenança tenente-coronel Mauro Cid é especialmente ruim porque toca num dos pontos vistos como responsáveis pela derrota da reeleição: o comportamento insensível (de novo, para dizer o mínimo) durante a pandemia.
Não adianta Bolsonaro agora praguejar contra perseguição dos adversários. Estes estão isentos de autoria dos enroscos. Não foram os antagonistas que alimentaram instintos autoritários, bem como não partiu deles os ataques ultrajantes à corte guardiã da Constituição.
Tampouco partiu de seus oponentes a tentativa de se apossar das joias sauditas nem foram eles os patronos de abusos do poder na campanha eleitoral. Bolsonaro teve relativa boa vida por parte do PT, que o queria como competidor na disputa de 2022.
As pragas foram todas lançadas por aquele que agora, como estava escrito nas estrelas, paga por elas. O melhor que pode lhe acontecer, tudo indica, é ficar inelegível.
Fora a hipótese de prisão, o pior é se tornar um cabo eleitoral tóxico, do qual a direita pode preferir manter prudente distância.