Dóceis, mornos, lentos, frios

O governador, o prefeito (duas vezes no cargo e candidato a governador), o vice-prefeito (cansado da interinidade, ansioso para ser prefeito), mais a vereadora desconhecida repudiam a declaração do ministro Gilmar Mendes sobre Curitiba. Com tempo e assessoria à disposição podiam ser melhores, contundentes, assertivos. Os quatro limitam-se a um argumento tímido, para não dizer pífio: “Curitiba é cidade de gente trabalhadora”. Ora, o ministro não disse que só tinha vagabundo por aqui. E ser trabalhador não impede alguém de ser reacionário e estuprador das garantias do processo. Aliás, o pessoal da Lava Jato, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus procuradores eram gente muito trabalhadora, tanto que puseram um ex-presidente na cadeia e elegeram outro presidente. Os três líderes acima também trabalharam para eleger Lula, cruzando os braços e recebendo proveito passivo da Lava Jato. Em sua tíbia – e suspeita – condenação de Gilmar Mendes nossos líderes fazem jogo de cena para seu público. O decisivo é que não defendem nem criticam a Lava Jato.

Fosse séria a indignação, os protos homens – e a prota mulher – teriam sido vigorosos e enérgicos com o ministro. Por que não o o fizeram? Simples, vão precisar ele mais adiante. Gilmar sabe quando, como e o que dizer. Todos os três primeiros são a essência de Curitiba e têm motivos para se orgulhar disso. Dispenso-me de falar da vereadora porque só agora tive o prazer de saber dela. Os outros têm carreiras sucesso como são, foram e serão. Fossem os curitibanos que aparentam ser com o protesto, reagiriam com vigor, não na forma meiga e sem tesão como fazem. Aliás, Rafael Greca furta-se à coerência de hombridade, pois foi o primeiro a criticar a prisão de Lula por Sérgio Moro, aquilo das “masmorras de Curitiba”; agora se faz camaleão. Cuidado, eleitor, ainda que concorde com nossos varões de Plutarco, ainda que vote neles, pois é seu direito como o curitibano fascistoide criticado por Gilmar Mendes, entenda o pretendem aqueles senhores; não faça papel de bobo ao aplaudicar o que dizem. Porque, como disse o uruguaio Mário Benedetti (Me sirve e no me sirve):

El coraje tan dócil
la bravura tan chirle,
la intrepidez tan lenta
no me sirve.
No me sirve
tan fría la osadía.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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