Lendo Paul Valéry, no livro Variedades, encontro algum oxigênio. Respiro à vontade, embora ressabiado. E ainda me pergunto: o que os outros lêem nos meus textos? Já discuti mil anos sobre isso com Tom Capri. E agora mesmo estou admirado de não saber. Valéry tenta me iluminar. Na página 176 do livro encontro o último parágrafo do capítulo Acerca do Cemitério Marinho e me agarro nele.
Cemitério Marinho é um poema famoso dele. Valéry compareceu a uma palestra onde um ilustre estudioso destrinçou o poema para os ouvintes. O poeta refletiu sobre as descobertas do palestrante e escreveu o capítulo. Achou, resumindo, ‘singularmente precioso’ o trabalho: como o estudioso procurou as ‘intenções’ do poeta com ‘cuidado e método notáveis’. Sob ‘o olhar de um estranho’, Valéry diz uma coisa interessante: ele (poeta) escreve uma ‘partitura’ e só pode escutar quando é executada pela alma e pelo espírito de outra pessoa. O último parágrafo, vou reproduzir:
“Quanto à interpretação da letra, já me expliquei antes sobre esse ponto; mas nunca será demais insistir: não há sentido verdadeiro de um texto. Não há autoridade do autor. Seja o que for que tenha pretendido dizer, escreveu o que escreveu. Uma vez publicado, um texto é como uma máquina que qualquer um pode usar à vontade e de acordo com seus meios: não é evidente que o construtor use melhor que os outros. Além disso, se ele conhece bem o que quis fazer, esse conhecimento sempre perturba, nele, a perfeição daquilo que fez”.
Fico um pouco aliviado da carga de ser construtor. Mas, no fundo, como blogueiro, não entendo a indiferença do leitor.
*Rui Werneck de Capistrano ainda resiste