A exposição “Sonoridades de Bispo do Rosário”, com mais de 100 obras, estará disponível ao público a partir de hoje, na Sala 6 do Museu Oscar Niemeyer (MON). A mostra coloca o legado de Arthur Bispo do Rosário em diálogo com outros artistas cujos processos criativos foram influenciados por ele e pela convivência com a Colônia Juliano Moreira, onde Bispo do Rosário passou a maior parte da vida como interno. A curadoria é de Luiz Gustavo Carvalho.
“Ao realizar esta exposição, o MON propõe ao espectador uma profunda reflexão sobre o que é arte e o seu papel transformador”, comenta a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika.
“Celebrado e reconhecido postumamente no Brasil e no exterior, num processo incomum, ausente de formação acadêmica, Bispo do Rosário produziu a partir de materiais inusitados, transformando sua genialidade em instalações surpreendentes, comparáveis à obra de Marcel Duchamp ao mostrar que a arte é possível também a partir da simplicidade de objetos do cotidiano”, afirma.
Evocando os aspectos sonoros e poéticos presentes na obra do artista, os diversos objetos, instalações, colagens, assemblages e estandartes presentes na exposição dialogam com a obra visual, performática e poética de outros artistas que integram a exposição, deixando evidente o impacto de seu legado no cenário da arte contemporânea.
São eles: Antônio Bragança, Stella do Patrocínio, Leonardo Lobão, Paulo Nazareth, Marlon de Paula, Rick Rodrigues, Eduardo Hargreaves, Fernanda Magalhães e Guilherme Gontijo Flores.
Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) foi interno da Colônia Juliano Moreira (RJ), um dos maiores hospitais psiquiátricos do país no século passado, durante boa parte de sua vida. Carregou vários estigmas de marginalização social ainda vigentes em nossa sociedade – negro, pobre, louco, asilado em um manicômio – e conseguiu, na sua genialidade, subverter a lógica excludente proposta, a partir da sua obra.
A sua cela no Núcleo Ulisses Vianna, em vez de ser um lugar de confinamento, passou a ser ateliê e espaço de investigação. “Ele defendia os seus trabalhos com obstinação (…). Em um mundo ensurdecido pelo caos da normalidade e no qual as vozes são abafadas, Arthur Bispo do Rosário vê a necessidade de gritar”, explica Carvalho.
Durante anos, o artista desfiou os uniformes azuis do hospício, em um ato de subversão e lucidez contra a prisão manicomial, para em seguida transformá-los, bordando, rebordando, juntando, consertando, escrevendo, ocultando e criando catálogos e cartografias que ultrapassam as fronteiras entre o real e o imaginário, o visível e o invisível, o consciente e o inconsciente.
“Não podemos deixar de perguntar: como foi possível a uma pessoa que passou décadas enclausurada em um sistema manicomial que via como regra a exclusão do indivíduo ter nos legado uma obra de importância singular, em âmbito mundial, em pleno século 20?”, indaga o curador da exposição.
Centenas de exposições nacionais e internacionais feitas ao longo das últimas décadas em torno do seu trabalho mostram o incrível alcance de sua obra. Bispo do Rosário foi tema de livros, filmes e peças de teatro, entre outras vertentes artísticas.
SOBRE O MON
O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.
Serviço: Exposição “Sonoridades de Bispo do Rosário”|A partir do dia 5/7|Sala 6