Uma lição de Brasil

(Edição Todavia, S. Paulo, 2023, 301 páginas, incluídas notas, índices e bibliografia.) 

Não é resenha, que isso é para leitor treinado no ofício. É recomendação, tão rara quanto entusiasmada. Desde a redemocratização, o Brasil vive a febre editorial do brasilianismo, dos historiadores, sociólogos, cientistas políticos e principalmente jornalistas a analisar os fatos e sobressaltos do Mensalão, da Lava Jato, do impeachment de Dilma, dos crimes de Jair Bolsonaro, do assédio obscurantista do neopentecostalismo e do assalto patológico dos políticos ao cofre da Viúva.

Aqui na mesa estão pelo menos trinta títulos publicados nos últimos cinco anos, parte mínima do total, que se espalha ainda pela internet e revistas especializadas. A maioria informa e esclarece; alguns educam e pouquíssimos entusiasmam. O livro sobre o impeachment de Dilma é de entusiasmar, como já disse. Trabalho de cientista político, professor na USP, doutorado em Chicago e co-autor de obra coletiva com Adam Przeworski, seu orientador nos EUA.

A Operação Impeachment impressiona pelas notas de pesquisa, pela clareza e acima de tudo pelo estilo: um texto conciso, sintético e telegráfico, impressionante na objetividade e no ritmo que lembra os melhores livros de jornalistas; Fernando Limongi escreve sem ranço e pretensões acadêmicas, limitando-se a analisar com objetividade admirável que se traduz no demonstrar que no impeachment de Dilma Rousseff não houve inocentes; todos foram culpados e igualmente responsáveis.

Não há favoritismo nem parcialidade com os envolvidos na Operação Lava Jato, alavanca para a cassação da presidente; sobressai o oportunismo do juiz Sérgio Moro e dos procuradores que o auxiliaram. O livro de Fernando Limongi estimula a projeção sobre a cultura política brasileira; a metodologia do autor permite identificar o ethos da política brasileira desde a fundação da República – com os quais continuamos a nos confrontar no pós Bolsonaro e no atual Lula.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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