Abigail Disney, sobrinha-neta de Walt Disney, protestou contra emissões de CO2 dos jatos particulares de super-ricos
Esta carta é para você, Abigail Disney, que no dia 14 de julho deste mês, sentou-se na via de entrada do aeroporto de East Hampton, no estado de Nova York, ao lado de outros ativistas, bloqueando a passagem de milionários que pretendiam decolar com seus jatos particulares. Eu vi a sua foto sentada no chão de cimento, os braços conectados aos dos seus colegas, criando uma barreira física.
Muitas pessoas lhe perguntaram: “por que fazer isso?” Logo você, que poderia estar sentada em um desses jatos tomando champagne, afinal, como o seu sobrenome aponta, você também é uma milionária, herdeira da família Disney. “Estou apavorada com o futuro”, foi a resposta que você deu para a imprensa.
Eu também estou, Abigail. E sei muito bem por que vocês escolheram protestar contra os jatos particulares. O meio de transporte aéreo é um dos maiores emissores de CO2, um dos grandes responsáveis pelo aquecimento. Uma minúscula elite mundial, conhecida como os “super-ricos“, emite trinta vezes mais carbono do que seria aceitável para manter a temperatura global, justamente por se deslocarem muito e em transportes particulares. Um voo de quatro horas de jatinho emite a quantidade de carbono que um cidadão normal emite em um ano inteiro. E você sabe disso, tanto que deixou de ser passageira.
Este 3 de julho foi o dia mais quente já registrado no planeta. Parte do oceano chegou a atingir a temperatura de uma banheira de hidromassagem, e isso não é nada relaxante. Incêndios, secas e desastres causados pela chuva serão cada vez mais intensos e frequentes, com consequências como queda na produção de alimentos, ondas migratórias e encolhimento do PIB.
Imagino que ao sentar-se na entrada do aeroporto, você também pensou nos seus filhos. Nessa geração que já vem sofrendo de um quadro clínico chamado “angústia climática”, derivado do infortúnio de receber um planeta com essas perspectivas.
Você não está sozinha, Abigail. No dia 5 deste mês, um avô interrompeu uma partida de tênis em Wimbledon, jogando confetes e peças de quebra-cabeça em campo para chamar a atenção para essa mesma crise. Sabe o que estava escrito na camiseta dele? O nome dos netos. Alguns dias depois, três jovens ativistas jogaram tinta amarela e preta em um jatinho em Ibiza.
Desde 1988, os cientistas vêm tentando, de diversas formas, alertar a sociedade sobre a mudança climática. E, desde então, alguns setores, como o dos combustíveis fósseis, interessado em extrair até a última gota de lucro deste planeta, vem tentando confundir a opinião pública. Primeiro tentando negar que a mudança climática existia e, agora que os termômetros já não permitem mais essa fake, tentando falsear que nada é tão grave quanto parece.
Tenho certeza que, em vez de estar tumultuando uma partida de tênis, o vovô de Wimbledon preferiria estar em casa, montando o quebra-cabeça com os netos. Tenho certeza que, em vez de estar pintando jatos, aqueles jovens prefeririam estar pintando os cabelos. Tenho certeza que, em vez de ser arrastada para fora do aeroporto, você preferiria estar pegando uma praia ou assistindo a um filme da Disney.
Obrigada pelo esforço, Abigail. Obrigada por tentar esfregar os nossos olhos: até quando vamos deixar que poucos comprometam o futuro de muitos? E por tentar esfregar os olhos dos super-ricos: será que custa tanto largar o jatinho e voar na primeira classe de um avião normal? Ou mesmo deixar de voar, como muitos sabiamente estão fazendo?
Não custa lembrar: a maioria das pessoas nunca tirou os pés desta Terra. E tudo o que eles querem é apenas seguir caminhando em frente.