Por deficiência de recursos (naquele tempo, muito mais do que hoje), Cleonice e eu passamos a nossa Lua-de-Mel em Balneário Camboriú, SC. Isso nos idos da década de 60. Era um local – praia, gente e arquitetura – maravilhoso. Praia larga, limpa, areia refinada, gente alegre, simpática a acolhedora.
Depois, voltamos lá várias vezes. Sempre no mesmo local – Hotel Miramar, um belo casarão, ainda de madeira, defronte para o mar. Diárias justas, excelentes refeições, tipo caseiras. Tudo muito simples e verdadeiro. Inesquecível.
Estou sabendo que Camboriú mudou muito. Cresceu, multiplicou várias vezes a população. Ficou chique. Alargou a faixa de areia, apinhou-se de prédios gigantescos, os maiores do Brasil, arranhando o céu e tirando o sol da praia. Quer ser a Dubai brasileira. Um lugar digno de Luciano Hang, Neymar Júnior e Jair Renan Bolsonaro, que, não por acaso, têm domicílio lá. “Outros tipos do mesmo naipe também”.
Por tudo isso, Balneário Camboriú perdeu o encanto. Deixou de ser a Pérola do Litoral Norte Catarinense. E passou a ser uma pobre menina rica. Tem até um canal exclusivo no YouTube, exibindo, 24 horas por dia, o seu trânsito caótico. Um belo “espanta-turista”.
Camboriú esteve também presente, no final de semana, no Painel do Leitor, da Folha de S. Paulo. Ranulfo Felix Júnior, de Piracicaba, SP, falou por todos nós: “Quitinete de 33 metros quadrados na ‘Dubai brasileira’ custa R$ 1,6 milhão. Daqui a 20 anos, será um cemitério de prédios encalhados. Praia minúscula, suja, ruas apertadas, sem sol. Nunca colocaria um centavo lá”.
Esqueceu de citar o aumento da violência, a ineficiência do sistema de esgoto e a inevitável falta de água nos próximos anos.
E tem gente que se jacta disso!