Apoio de parte da comunidade universitária ao ataque do Hamas explicita distorção moral temerária no ambiente acadêmico
Tão repulsivos quanto os ataques do Hamas a Israel foram os comentários que se seguiram à barbárie, inúmeros partindo daquela famosa instituição que há séculos tem o papel de produzir conhecimento e defender princípios civilizatórios como a ética e a liberdade: a universidade.
Ainda pior, parte significativa do respaldo às atrocidades veio de professores e alunos de humanidades, área na qual se espera que pessoas não sejam tratadas como objetos.
Contudo assistimos a um desfile macabro de historiadores, sociólogos, psicólogos etc. apoiando assassinatos e sequestros de centenas de civis perpetrados por um grupo terrorista que, na sua carta fundadora, prega não apenas o fim do Estado de Israel, mas o extermínio dos judeus.
O pretexto é a luta contra a opressão de palestinos na região. Ora, é inacreditável que pessoas com diploma universitário resumam a causa palestina ao Hamas. Criticar os assentamentos na Cisjordânia ou exigir a criação de um Estado palestino, por exemplo, não têm relação lógica com justificar assassinatos de civis.
Como escreveu um dos cartunistas mortos no massacre da redação do semanário francês Charlie Hebdo em 2015: “Respeitar o islamismo não é confundi-lo com o terrorismo islâmico”. E lá também se viram tentativas de justificar o ataque terrorista.
O substrato dessa distorção moral vem de um aspecto do idealismo filosófico, que enfatiza a primazia da mente, das ideias, sobre a realidade material. O perigo, a partir de determinado uso dessa perspectiva, é descambar na desumanização.
Abstrações como povo, raça e nação ou revolução e liberdade (“Oh, liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome!”, disse a francesa Manon Roland, antes de ser guilhotinada em 1793) solapam a dignidade de indivíduos, que podem assim ser dizimados em nome de uma causa político-ideológica.
A comunidade universitária precisa rever seus conceitos. Quando os fins justificam os meios, os princípios são destruídos pelo caminho —e, sem eles, não há humanismo.