O relógio marcava 1h40 na madrugada desta quinta-feira, quando tocou o telefone. Era o senador Alvaro Dias. O que desejaria o ex-governador do Paraná, naquela hora tão festiva para a oposição? Surpreso, o cumprimentei: “Boa noite, senador!”.
— Boa noite! Belíssima noite, caro jornalista!
— No que posso servi-lo, assim numa hora tão grave para o País?
— Desculpe o incômodo (Alvaro Dias é uma gentileza extrema), mas estamos aqui reunidos em torno de uma caixa de champanhe e só você pode nos ajudar. Vamos comemorar com os senadores da oposição nosso rotundo NÃO contra a CPMF.
— Pois não, senador, mas não sou da editoria de Economia! Quero adiantar ao senhor que aqui em casa quem assina cheque é minha mulher. Das contas a pagar, mal lembro a senha do meu cartão do banco.
— Não é só você, até o Lula, há muitos e muitos anos, não assina um cheque. O que nós estamos precisando é de sua ajuda para nos explicar, com detalhes, qual o melhor método para abrir uma garrafa de champanhe, com todo o requinte e elegância que o momento exige.
— Desculpe a curiosidade, senador Alvaro Dias, mas com qual champanhe os senhores estão comemorando a derrota governista?
— Veuve Clicquot Brut!
— Esta preciosidade requer pose, senador. A abertura deste champanhe deve parecer aos convidados que o anfitrião faz isso todo dia. A pose é muito importante, para não parecer que os circunstantes podem sofrer um desastre qualquer. Uma rolha voadora no olho, por exemplo.
— Qual o primeiro passo, então?
— Boa noite! Belíssima noite, caro jornalista!
— No que posso servi-lo, assim numa hora tão grave para o País?
— Desculpe o incômodo (Alvaro Dias é uma gentileza extrema), mas estamos aqui reunidos em torno de uma caixa de champanhe e só você pode nos ajudar. Vamos comemorar com os senadores da oposição nosso rotundo NÃO contra a CPMF.
— Pois não, senador, mas não sou da editoria de Economia! Quero adiantar ao senhor que aqui em casa quem assina cheque é minha mulher. Das contas a pagar, mal lembro a senha do meu cartão do banco.
— Não é só você, até o Lula, há muitos e muitos anos, não assina um cheque. O que nós estamos precisando é de sua ajuda para nos explicar, com detalhes, qual o melhor método para abrir uma garrafa de champanhe, com todo o requinte e elegância que o momento exige.
— Desculpe a curiosidade, senador Alvaro Dias, mas com qual champanhe os senhores estão comemorando a derrota governista?
— Veuve Clicquot Brut!
— Esta preciosidade requer pose, senador. A abertura deste champanhe deve parecer aos convidados que o anfitrião faz isso todo dia. A pose é muito importante, para não parecer que os circunstantes podem sofrer um desastre qualquer. Uma rolha voadora no olho, por exemplo.
— Qual o primeiro passo, então?
— O senhor está com uma garrafa na mão? Sim? Então primeiro retire o envoltório metálico que encobre a tela metálica e a rolha. Para não rasgar todo o envoltório da garrafa, observe que tem uma lingüeta para puxar.
— Com uma das mãos, segure a garrafa firmemente pelo gargalo, enquanto pressiona a rolha para baixo, com o polegar, como segurança contra o vexame de um espocar prematuro. Com a outra mão, destorça o arame na base da grade e retire-o.
— Pronto.
— Agora, senador, desça a mão que está segurando a garrafa para a parte mais larga dela e a incline num ângulo de 45º, afastando a garrafa do senhor. Usando a mão livre, agarre a rolha com firmeza e gire a garrafa – e não a rolha! até que a rolha começa a soltar-se e depois continue mais devagar, até que a rolha saia. Se o senhor estiver enfrentando uma rolha teimosa que se recusa a se mover, empurre a rolha para frente e para trás para soltar o entravamento entre o vidro e a rolha.
— Só uma curiosidade: por que você disse para rodar a garrafa e não a rolha?
— Desculpe senador, mas até a Ideli Salvatti concorda que não tem importância qual delas você gire, porque o movimento é precisamente relativo. O senhor consegue cortar uma fatia de pão esfregando o pão contra a faca, não consegue?
— Foi isso que o governo tentou fazer essa noite aqui no Senado.
— Pois pense nisso: ao girar a rolha, o senhor tem que reposicionar o dedo várias vezes, perdendo seu domínio sobre ela. Numa dessas, a rolha poderia pular, descontrolada.
— Perfeito, caro jornalista. É por isso que dizem que vocês da imprensa são especialistas em generalidades.
Uma última coisa, senador Alvaro Dias: o seu irmão Osmar está aí comemorando com os senhores?
— Não! Está tomando chá de boldo com o presidente Lula.
— Pronto.
— Agora, senador, desça a mão que está segurando a garrafa para a parte mais larga dela e a incline num ângulo de 45º, afastando a garrafa do senhor. Usando a mão livre, agarre a rolha com firmeza e gire a garrafa – e não a rolha! até que a rolha começa a soltar-se e depois continue mais devagar, até que a rolha saia. Se o senhor estiver enfrentando uma rolha teimosa que se recusa a se mover, empurre a rolha para frente e para trás para soltar o entravamento entre o vidro e a rolha.
— Só uma curiosidade: por que você disse para rodar a garrafa e não a rolha?
— Desculpe senador, mas até a Ideli Salvatti concorda que não tem importância qual delas você gire, porque o movimento é precisamente relativo. O senhor consegue cortar uma fatia de pão esfregando o pão contra a faca, não consegue?
— Foi isso que o governo tentou fazer essa noite aqui no Senado.
— Pois pense nisso: ao girar a rolha, o senhor tem que reposicionar o dedo várias vezes, perdendo seu domínio sobre ela. Numa dessas, a rolha poderia pular, descontrolada.
— Perfeito, caro jornalista. É por isso que dizem que vocês da imprensa são especialistas em generalidades.
Uma última coisa, senador Alvaro Dias: o seu irmão Osmar está aí comemorando com os senhores?
— Não! Está tomando chá de boldo com o presidente Lula.
Dante Mendonça [14/12/2007]O Estado do Paraná.