Há textos que você lamenta não ter escrito e, por isso, pede licença ao autor ou autora para subscrever. É o caso de “Vivendo perigosamente”, de Eliane Cantanhêde, publicado no final de semana no Estadão. Nele, a excelente comentarista chama a atenção de Luiz Inácio, que, no seu entender “gosta de viver perigosamente e, em vez de usar a sabedoria da idade, reage de forma juvenil em questões sérias e de interesse do Brasil”. E cita como exemplos Israel, Argentina, EUA, déficit zero, Petrobras e agindo com dubiedade em relação ao Supremo e até permitindo que o governo replique o bolsonarismo no ataque a jornalistas.
Eliane observa que “Lula pretende se reunir com Mohammad bin Salman, ditador sanguinário da Arábia Saudista, maior exportadora de petróleo do mundo, justamente a caminho da COP 28, onde as mudanças climáticas e as fontes renováveis serão estrelas e o Brasil deve ser o centro das atenções”.
A seguir, indaga: “O que o Brasil, o governo e Lula ganham ao condecorar o embaixador da Palestina com a Ordem do Rio Branco bem no meio da guerra de Israel? E com essa birra com o presidente eleito da Argentina? Ok, Javier Milei é grosseiro e preocupante, mas foi eleito pelos argentinos e não cabe ao presidente do Brasil condenar e fazer birra”.
Tem toda a razão a jornalista Cantanhêde. Luiz Inácio, sem necessidade, tem batido cabeça. Cutuca os EUA e adula a Rússia e a China e, assim, enfraquece Joe Biden e fortalece o topetudo Trump. De igual modo, ao guerrear com Milei, dá palanque para aquele ex-capitão cujo nome não deve ser dito nem escrito. Além do que, andou criando problemas com o ministro Fernando Haddad, uma das melhores figuras do atual ministério, criticando o BC, a nova âncora fiscal e o déficit zero em 2024, para, depois, voltar atrás e concordar com tudo.
Apesar disso, Lula tem tido alguns bons resultados – como também reconhece Eliane – na economia, ao patrocinar reformas estruturais, ao resgatar os laços do Brasil com o mundo e ao acenar com as prioridades sociais. Mas, ao contrário de enaltecer o caminho andado e o que pretende andar, fica oferecendo munição para os inimigos.
O escritor moçambicano Mia Couto, como já citei aqui, recomenda certa paciência com Luiz Inácio, pois, segundo ele, o Brasil é um país profundamente rachado e isso, para mudar, leva tempo. Daí a necessidade de alianças com adversários.
Tudo bem. Mas para tudo há limite. Lula precisa parar de falar demais, meter-se onde não deve e criar dificuldades para o próprio governo, antes que seja tarde. Parafraseando Eliane Cantanhêde e usando o dito da mulher de César: “Além de ser competente, Luiz Inácio precisa parecer competente”.
Janja, ô Janja! Aproveita as belezas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes e chama o maridão de lado e pede para ele tomar jeito. Já está de quadril novo e sem as incômodas bolsas nas pálpebras, agora só resta ele governar de verdade. O Brasil! É o Brasil que Lula tem de governar; não Israel, a Arábia Saudita, os EUA, a Argentina, a China, a Ucrânia, a Rússia ou a ONU.
Ah, sim, Janja, só cuidado para não receber presentinhos do sheik, como relógios, colares, canetas e abotoaduras cravejados de brilhantes, que, depois, você vai mandar vender nos EUA e ter problemas com a Polícia Federal. Há histórico recente disso.