Dois uísques abaixo

EM VERDADE vos digo: também sou cachaceiro, devoto e apreciador de pinga. Também? Sim, porque estou em boa companhia, no Brasil e Algarves, com referências ilustres em homens de Estado, verdadeiros heróis.

Primeiro Jânio Quadros, que tanto gostava que ao visitar cabos eleitorais chegava pedindo um copo com água, que rejeitava porque o anfitrião não entendia tratar-se de outro líquido branco. Os seguidores demoraram para saber porque sempre tinha a tiracolo dona Eloá, sua mulher, que não fazia política. Ela tinha o apostolado conjugal de impedir o marido de pedir a saideira. Jânio nunca renegou a cachaça, que defendia: “Bebo porque é líquida; sólida fosse, bebê-la-ia”, sempre amante da mesóclise, sóbrio ou não.

Lula1/2 encomendava a Milagre de Minas, uma delícia também do gosto deste que vos bloga; ela é suave e, como dizem os enólogos sobre o vinho, evidencia traços evocativos de mel. Nos minutos finais de sua rendição à Polícia Federal, que o levaria à prisão pela Lava Jato, Lula entrincheirou-se no sindicato dos metalúrgicos onde começou a vida política, e, cercado pela militância, não abandonava a garrafa com o líquido branco, sempre reabastecido, supostamente com água, que sorvia compulsivamente.

Este anônimo blogueiro também bebe, mas sofre assédio da mulher, exaltada praticante da temperança, que invade todos os esconderijos de casa em demanda do Milagre de Minas ou da Pinga do Polaco, produzida em Prudentópolis. E não o abandona nem quando ele sai para o sanduíche de mortadela na padaria. Repressão? Sim. Como dona Eloá, ela descobriu que em frente da padaria está o bar que, quando fechado, à noite, domingos e feriados, tem campainha para atender seus fieis cachaceiros.

Jânio, Lula e demais dipsômanos têm valiosa referência em Winston Churchill, que derrotou o nazismo à base do consumo diário de champanhe, gim e conhaque – neste inclusive mamava molhando a biqueira de seu inseparável charuto. Como inimigos de Churchill, Jânio e Lula estão os genocidas e falsos moralistas que bebem gasosa e gengibirra. Concluo lembrando o companheiro Humphrey Bogart, mito do cinema, decretou que “a  humanidade está dois uísques abaixo”. 

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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