O vício da jijoca

A POLÍCIA pegou no flagrante o cearense que costumava furtar calcinhas do varal da vizinha. Preso, alegou ter fetiche pela peça, com a qual satisfazia o instinto primal após sorver o embriagante perfume de sabão em pó com volúpia igual à do viciado em cocaína. Foi liberado depois de assinar o tal termo de conduta – que não funciona, pois não converte o ladrão em cheirador de cuecas. Frise-se que o crime foi o de furto, aqui sem qualquer qualificatória; ao contrário, seria no máximo furto famélico, em estado de premente necessidade. O fato aconteceu em Jijoca de Jericoacoara, cidade no Estado de Ciro Gomes, que teve em seu varal as melhores calcinhas do Brasil. Seja o que Jijoca ou Jericoacoara signifiquem solitárias ou em conjunto no cearense tupi-guarani, no brasileiro contemporâneo são excelentes metáforas para o território coberto pela res furtiva.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Rogério Distéfano - O Insulto Diário. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.