As reclamações do tenente-coronel Mauro Cid contra a Polícia Federal e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, divulgadas pela revista Veja, podem não dar em nada em termos jurídicos, mas já rendem à oposição bolsonarista um atraente discurso político.
A poucos meses da campanha para as eleições municipais, num momento de baixa na popularidade do presidente Lula e de demonstração de força de Jair Bolsonaro após o evento de fevereiro em São Paulo, os bolsonaristas poderão dizer que Bolsonaro é uma vítima perseguida por Moraes e até defender a anistia para quem tentou dar um golpe de Estado.
O discurso pela anistia dos presos e condenados pela barbárie de 8 janeiro, em Brasília, já corre fácil pelo Congresso e pelas redes sociais. Em geral, o sistema é o mesmo: fala de um dos presos como uma pessoa comum, uma mãe ou pai, e diz que esta pessoa deixou uma família sozinha, etc.
Para incluir Bolsonaro e até Mauro Cid como vítimas de Moraes é um pulo relativamente simples, a ser dado num futuro próximo. A base será questionar se Cid disse tudo o que disse porque é verdade ou porque foi coagido pela Polícia Federal – o mesmo argumento, aliás, usado por empreiteiras punidas por corrupção pela operação Lava Jato e recentemente reabilitadas por decisões do ministro Dias Toffoli, do Supremo.
Se o discurso já deu certo na Lava Jato, aos bolsonaristas não custa tentar.