Bolsonaro fora das 4 linhas

O fato de ter passado dois dias na embaixada da Hungria em fevereiro, logo depois que a Polícia Federal apreendeu seu passaporte, mostra que Jair Bolsonaro pensa menos em sua defesa e mais em o que fazer se ou quando for condenado e preso.

A revelação da visita e permanência de Bolsonaro na embaixada foi feita pelo jornal The New York Times nesta segunda (25). Imagens de câmeras internas mostram Bolsonaro chegando à embaixada em Brasília no dia 12 de fevereiro e saindo no dia 14.

A Hungria é governada por Viktor Orbán, simpático a Bolsonaro. Orban é um Bolsonaro que, em vez de tentar um golpe, conseguiu corroer a democracia por dentro e hoje é praticamente um ditador.

A conclusão é que, sem possibilidade de fugir do país (como fez pouco antes de deixar o governo), Bolsonaro poderia pedir asilo na embaixada da Hungria – ou de algum outro país simpático a ele. Seria uma forma radical de evitar sua prisão.

Um pedido de asilo lhe daria a chance de fazer um discurso de repercussão internacional de perseguido político, que teria acolhida em alguns países.

Poderia incentivar um movimento em seu favor no Brasil. Bolsonaro sempre joga com a possibilidade de provocar uma agitação social capaz de constranger a Justiça. É totalmente improvável que haja alguma influência, mas pode impulsionar iniciativas em favor de uma anistia, tema levantado por seus filhos.

A atitude sugere certa precipitação de Bolsonaro. Apesar de ser investigado em três casos, ele ainda nem foi indiciado pela Polícia Federal. É muito provável que seja denunciado por golpe de estado, pelo roubo das joias das Presidência e pela falsificação do cartão de vacinação. Quando for, terá de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República, julgado pelo STF e eventualmente condenado, para só então ser preso. Tudo isso levará meses.

Sua atitude, portanto, sugere muita precipitação e um grande risco: pode ser interpretada como tentativa de obstrução de justiça e justificar um pedido de prisão preventiva. Seria algo inédito.

Para quem gosta de comparações, em 2018, o então ex-presidente Lula não resistiu à prisão pela operação Lava Jato – não tentou fugir, nem buscar asilo. Bolsonaro mostrou que joga de forma diferente e cruzou uma fronteira arriscada.

Esta postura muda a dinâmica das ações policiais contra o ex-presidente. Bolsonaro certamente será monitorado mais de perto, o que dificultará tomar uma medida radical como esse. A alternativa da fuga para uma embaixada pode ter sido desperdiçada.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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