O golpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart, interrompeu um dos períodos mais ricos, democráticos e participativos da nossa República. Convocados pelos grandes grupos econômicos e pelos principais meios de comunicação, os chefes militares, com o apoio direto do governo dos Estados Unidos, rasgaram a Constituição e submeteram o Brasil à mais longa e terrível noite de sua história. Foram 21 anos de opressão e resistência. Nunca o povo brasileiro passou por provas tão duras. Nunca foi tão exigido. Nunca lutou com tamanha bravura.
Retrocessos nos direitos dos trabalhadores, brutal concentração de renda, agravamento das desigualdades sociais, aumento dos desequilíbrios regionais. O Brasil, que já era um país profundamente injusto, tornou-se ainda mais desigual durante a ditadura. Os ricos ficaram mais ricos. Os pobres ficaram mais pobres.
O povo e suas principais lideranças foram alvos de implacável perseguição: sindicatos sob intervenção, entidades estudantis fechadas, militares constitucionalistas expulsos das Forças Armadas, partidos políticos extintos, artistas e intelectuais amordaçados, imprensa sob censura ou autocensura, Legislativo e Judiciário castrados, fim do voto direto para presidente e governadores, manifestações dissolvidas a golpe de cassetete ou a bala.
Para tentar calar o povo, os donos do poder montaram um gigantesco aparelho repressivo, que não se detinha diante de nada: 200 mil cidadãos foram presos por motivos políticos, 500 mil submetidos a investigações. Cerca de dez mil brasileiras e brasileiros tiveram de se exilar. Milhares padeceram nos centros de tortura. Mais de 400 foram assassinados ou estão desaparecidos.
Mas o povo brasileiro não se dobrou. Jamais renunciou a lutar por seus direitos. Resistiu de todas as maneiras. Dentro das prisões e nas ruas. Nos sindicatos e nas escolas. Nas igrejas e nos bairros.
Em condições extremamente difíceis, ele encontrou ou criou brechas para seguir batalhando. Nas passeatas estudantis. Na resistência cultural. Na imprensa alternativa. Na luta armada. Na denúncia dos crimes do regime. No voto e no Parlamento. Na luta pela anistia. Nas grandes greves dos trabalhadores. Na reação aos atentados terroristas promovidos pelos órgãos da repressão. Na formidável campanha das Diretas-Já.
Quantos mártires não se sacrificaram então por um país mais justo? Quantos patriotas, desafiando enormes sofrimentos, não mantiveram acesa a chama da luta pela liberdade e pela justiça social? Quantos não teimaram em sonhar em meio àqueles anos de chumbo e de pesadelo? Nunca serão esquecidos.
Desse terrível período, nosso povo saiu mais forte, mais maduro e mais determinado. Aprendeu a duras penas que a democracia é uma conquista extraordinária, que pertence a cada brasileira e brasileiro, que tem de ser cultivada, respeitada e fortalecida por todos nós.
Ditadura, nunca mais.