Mariscos e ostras coisas

Foto sem crédito.

“A peixaria do Anésio fica no último box, à direita de quem entra no mercado”, disse o garçom do restaurante onde tínhamos provado dúzias de mariscos que há muito não víamos tão grandes e frescos. Anésio nos atendeu com presteza. Pedi cinco dúzias, ainda vivos.

— Você sabe abrir esses moluscos? – me perguntou Anésio, enquanto catava os mariscos do fundo de um tanque.

— Só depois de botar os bichos na panela para servir ao bafo.

— Perde o gosto, filho. Marisco bom é marisco vivo!

— E comer é fácil, difícil é não cortar os dedos.

O velho marinheiro aposentado se apoiou no balcão de madeira e mostrou um grande marisco, do tamanho de um bife, ainda cheirando a maresia.

— Filho, a criatividade do homem quase se esgotou, num sem-número de tentativas para descobrir como abrir ostras e mariscos de um jeito simples e rápido, sem cortar os dedos.

— Um abridor de latas resolve!

— Depende. Tem gente que usa martelo, alicate, serrote, até executam as coitadas no forno de microondas. Uma maldade. A força bruta é completamente desnecessária, vai prejudicar o sabor dessas saborosas criaturas.

— Então, qual o melhor método?

— Para abrir mariscos de maneira mais fácil, presta atenção: bota no freezer durante 20 a 30 minutos, dependendo do tamanho deles. Vão ficar frios, mas não congelados. Assim anestesiados, eles não conseguem se agarrar nas conchas. Depois, apoiando o marisco na mão, protegida por um pano, pressione uma faca plana – de ponta arredondada – entre as conchas, no ligeiro entalhe perto da extremidade mais pontuda. É aí que o marisco deixa sair seus sifões. Ao deslizar a faca contra a superfície interna de uma das conchas, você corta os músculos que prendem as duas conchas. Torça a concha na dobradiça e pode jogá-la fora. Depois você solta os músculos do mesmo jeito da outra concha, deixando o marisco dentro dela. Junta um pouco de sal, pimenta, uma espremidela de limão, e desliza a delícia pra dentro da boca.

— O que é mais difícil de lidar: ostras ou mariscos?

— Difícil mesmo é lidar com a tartaruga. Quando você aponta o facão para cortar a cabeça, ela encolhe a cabeça pra dentro e dali não tira tão cedo. Então você espera. Ela volta a botar a cabeça pra fora, você novamente aponta a faca, e ela volta a esconder a cabeça. A tartaruga é um bicho encardido, não tem pescoço. Qualquer ameaça, ela encolhe a cabeça.

— Mas deve ter alguma técnica especial.

— Só tem um jeito: você pega o dedo indicador e – como é que vamos dizer? Digamos assim: você pressiona o dedão no… no “fiofó” da tartaruga! Ela, assustada, bota a cabeça pra fora. Então – num CRAU! você passa o fio do facão na cabeça da danada!

— Dedão no “fiofó” da tartaruga? Onde o senhor aprendeu essa técnica?

— Quando estava no Exército, servi com um general que também não tinha pescoço. Dava o maior trabalho botar uma gravata no homem.

***

Enquanto o velho marinheiro embrulhava os mariscos em folhas de jornal, uma última pergunta não podia deixar de ser feita:

Seu Anésio, com todo o respeito que o pescoço curto do presidente merece, será que usam da mesma técnica para botar uma gravata no Lula?

— Duvido muito! Esse Lula não é nenhuma tartaruga: viu só no que deu botar o dedo no CPMF do homem?

Dante Mendonça [04/01/2008]O Estado do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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