Me pergunto, e não me respondo, em que salões as elegantes festas que, pelo passado, movimentaram o então chamado “haut monde” social daqui ou dalhures? Cintilavam as jóias em deslumbrantes colos que só o saudoso Ernâne Gomes Correia sabia descrever nas rodas da Boca Maldita. Piá enxerido, à sombra de Jamil Snege, eu a tudo observava, num enlevo que a nostalgia brinca aqui a chamar de saudade.

Tinha gosto e “savoir-faire”, o E.G.C., que assinou durante anos uma coluna histórica na Tribuna do Paraná daquele tempo – a Roda Gigante. A voz tonitruante, as grandes mãos subiam e baixavam a reproduzir a respiração das divas decotadas dos salões. Hoje, não há mais o velho Ernâne, e nem sabemos se ainda existem divas dignas deste nome.

As festas dos ricos são encomendadas ao bufê da esquina, e “assar uma carninha” virou sinônimo de churrasco, invariavelmente pontuado por bêbados falastrões quando não agressivos. Sei de muita churrascada “elegante” que acabou em pancadaria.

O pior é quando tais ágapes se dão nos prédios new-kitsch do Champagnat, que é como chamam hoje o Bigorrilho de minha infância. Sem nem mesmo o charme dos subúrbios com suas churrasqueiras e o desbragado som de Bruno e Marrone…

Nos Anos Loucos, repórter bandalho de O Globo, fui assíduo dos generosos “scotchs” dos muito ricos, sobretudo os de Beki Klabin, no suntuoso triplex da Vieira Souto, no Rio. Apaixonada por Waldick Soriano (quem esquecer há-de?), invariáveis as “bocas-livres” à beira da piscina no apê frente ao mar de Ipanema. Tudo muito esquizo e malsão. Ali os rega-bofes da velhusca perdulária; lá fora, o Horror Médici a rugir.

De Curitiba, sei de ouvir falar. O nunca esquecido Nelson Faria, um dos fundadores da pioneira Quatro Estações, revista dedicada aos “socialites” curitibanos de antigamente, me contava, feito quem conta um conto de fadas, das aristocráticas recepções, nos anos 50s, na Mansão das Rosas, por exemplo. Segundo ele, iam além da imaginação.

Tendo como anfitriã a matriarca Mercedes Fontana, nos dias de festa, o pátio do palacete entupido de reluzentes cadilaques, esplendiam archotes, tilintavam os cristais. Justo onde, hoje, rente à via expressa, na João Gualberto, pulula modernoso complexo de prédios residenciais. Ali a toda Curitiba pontificava numa “féerie” proustiana como não se faz mais.

Feliz o E.G.C., no céu que lhe aconteceu.

Não viu se evaporarem as divas nem o colo exuberante de jóias das divas d’antanho, nas festas que, não existindo mais, são só a nostalgia de uma Curitiba que o vento levou.

Wilson Bueno [09/03/2008] O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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