"Laranja Mecânica" traz boas surpresas

A montagem teatral de “Laranja Mecânica”, que lotou o Espaço Cultural Falec em sua estréia anteontem (18), é uma das boas opções do Fringe deste ano. O diretor Edson Bueno preferiu se guiar pelo livro de Anthony Burgess, mantendo um distanciamento do filme inspirado por ele, de Stanley Kubrick. A escolha foi acertada e coloca em cena o final original, e não aquele que se consagrou no longa-metragem.
Mesmo assim, é nítida a influência do cinema, principalmente, na primeira parte da peça, em que Alex – o ator Dimas Bueno, em seu primeiro grande papel – e seus amigos praticam todo o tipo de violências em cenas de movimentação rápida e transição seca. Os estupros, assaltos e espancamentos, mesmo de mentirinha – os atores não chegam a se encostar – lembram o que foi feito na peça “Educação Sentimental do Vampiro”, de Felipe Hirsch, e provocam um riso constrangido do público, em dilema entre o ódio e a simpatia pelo personagem. Dimas Bueno não decepciona. Sem nunca sair de cena, imprime em seu corpo as inúmeras emoções, por vezes contraditórias, de Alex.
Algumas vezes, no entanto, é difícil distinguir algumas de suas palavras, embora, muitas delas sejam mesmo incompreensíveis, pois são expressões particulares à gangue criada por Burgess. São méritos também a iluminação de Beto Bruel, em constante diálogo com a encenação; o figurino agressivo e feito, em boa parte, com vinil preto e vermelho, de Áldice Lopes; e as escolhas ousadas do sonoplasta Chico Nogueira.
Annalice Del Vecchio

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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