Dá na mesma. Villon, Baudelaire, Leminski, Bukowski et caterva. Os reflexos ainda estão nas janelas, nos blogues, nos bares, nos livros. Aquela azia, a sede imensa logo de manhã, a bexiga implorando perdão, a cabeça batendo estaca, o sol ardendo nos olhos. Alma na mesa. Bar fedido. As palavras tontas e tão loucas jorrando. Litros de vodka, rum, cachaça, uísque, gim pelo ralo. Cigarro, cigarro, pigarro, tosse, catarro. Barba, cabelão, inchaço, podridão. Poemas em guardanapos. Discussões sem-fim só pelo amor à última palavra, à conceituação equivocada, aos olhos arregalados.
Sempre tive a impressão de que a palavra salvaria o mundo. Um verso perfeito, um conto magistral, o romance do século. Le mot just. A palavra, porém, nunca se esgota. Mas nos esgota. A gente vai puxando o fio da merda e ela vai ressuscitando Kerouac, Nerval, Hemingway, Cortázar, Borges, Cassady e Rimbaud. Nada de novo no frontispício. Nós, os novos, nunca! Já velhos novos e nunca. Febre nas livrarias — quem se livra? E o copo se enche e esvazia. A palavra é o pio do povo. E a festa parece que não acaba. A barca do Bukowski passou lotada, de novo. Perdi a passagem. Só de me embrenhar em mim mesmo já não acho saída, muito menos a entrada certa. Que dirá…
*Autor de Nem bobo Nem Nada, que você não leu, nem nunca vai ler, né?