Tapas com luvas de pelica

Foto de Albert Nane.

Exposição Paixão e Cidadania, inaugurada ontem, no Espaço Cultural Beto Batata, revisa obra recente do desenhista paranaense Ademir Paixão em 50 cartuns originais.
Quando você olha para uma charge do Paixão, começa logo a desconfiar que esse cara é um gênio do desenho. Como ele consegue desenhar o Lula de costas e ainda assim os leitores identificarem aquele desenho como sendo o Lula? Bem, quando você o vê desenhando uma charge – privilégio de poucos e ao qual tive acesso desde que fui afortunadamente contratado pela Gazeta do Povo em 2001– você enfim tem a certeza de que Ademir Vigilato da Paixão, 56 anos, 20 de profissão, é efetivamente um gênio do desenho.
Eu o vi criando uma charge do nada, o papel em branco, os óculos ao meio do nariz, um traço ligeiro aqui, outro ali, depois umas pinceladas de aquarela e…fez-se a charge do dia seguinte. Um insight materializado em forma de piada: a mágica está no fato de ser um humor “leve”, por conta do brilhantismo da caricatura e agilidade cognitiva das suas idéias; mas ao mesmo tempo “pesada”, pela crítica incisiva e precisa. Paixão bate com elegância. Com humor e elegância
Ademir Vigilato da Paixão, tem 56 anos, é de Japira, interior do Paraná, e veio para Curitiba tentar a sorte como desenhista ainda aos 18 anos de idade. Fez retratos das pessoas na Rua XV, quando isso ainda era inédito, depois trabalhou como policial militar, desenhista de peças de automóveis e ilustrador de apostilas, até ingressar na Gazeta do Povo, em 1988, para assumir o espaço da charge de opinião, deixado por Douglas Mayer, que havia se mudado para os Estados Unidos.
Paixão já teve seus desenhos publicados nas revistas Veja e Revista da Semana, e recentemente batizou com o seu nome uma biblioteca em sua cidade natal. E o mais intrigante, quase nunca usa texto para seus desenhos. Eu, como adepto das charges com texto, não consigo imaginar como ele conseguiu passar mais de 20 anos desenhando diariamente sem o auxílio de textos. Pelos meus cálculos (lembrem-se, eu reprovei em matemática três vezes) Paixão deve ter publicado quase 6.700 charges. Sem auxílio de balões ou legendas. Bem, para quem tem um humor e um desenho como o dele, não precisa de texto. Paixão é o Buster Keaton das charges.
Nós, leitores e fãs, estamos ainda esperando um livro do tipo Todo o Paixão ou ainda The Best of Paixão, com a compilação de seu trabalho, desde os primórdios, quando começou satirizando o bigodão do Sarney, até os dias de hoje.
Enquanto o livro não chega, se você pode ir até o Espaço Cultural Beto Batata (R: Professor Brandão, 678 – Alto da XV) para conferir a exposição Paixão e Cidadania, uma retrospectiva com 50 trabalhos originais do autor, percorrendo alguns dos momentos mais importantes do que foi notícia no Brasil e no mundo. Estão lá suas charges sobre o Bush, Fidel Castro, Obama e, claro, o presidente Lula. A exposição fica em cartaz até o dia 31 de agosto. Benett/Gazetado Povo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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