Próximo ao túmulo do poeta-irmão, Paulo Leminski, no cemitério do Água Verde, morto infante, aos 44 anos, repousam, senhores, os restos mortais de minha avó paterna, Mariana Fonseca Bueno, falecida, pasmem!, aos 105 anos, em 1946. Até os cem, reza a crônica familiar, trançava rendas-de-bilro, os oclinhos de garrafa sobre o nariz aquilino.
Vejo-a aqui, no retrato antigo: severa e moça, o suave buço, ao lado do filho caçula, meu avô Emídio, então um lépido rapaz, mais sério que a mãe na foto de 1923. Ô vida! Ô Tempo que anda e anda , congelando, lá atrás, pássaro e vento, olhos e sorrisos.
O avô só não foi aos cem porque, pedestre renitente, uma kombi na contra-mão o matou aos 74 . Mas acabara de construir, sozinho, no Uberaba, uma casa de doze peças. Vera força da natureza!
Pelo visto, vão ter que me aturar por mais bom tempo, a chamar a atenção para céus e telhados, pinheiros e precipícios. Quase sexagenário, a passear visíveis 37 ( hehehe), sem a notória porralouquice que foi a maior marca de meus trint’anos em Curitiba ( né mesmo, Almir Feijó?), pode que incomode por mais meio século. Ai das hienas papudas ou dos críticos tortuosos, senhores das histórias e das “desestórias” das desinteligências!
Gosto mesmo é do Oscar Niemeyer, 100, a dizer sonoros palavrões quando algo vai mal no escritório e das pernas da Derci Gonçalves,103, nas entrevistas ao
Jô Soares.E por falar em cousas lindas, muito mais que findas, cadê o sempre álbum de família de Iara Teixeira, no blog do Solda? Deliciavam-me aquelas gentes, em sépia, à volta do pai do Nireu Teixeira, a agitarem os palcos dos “theatros” curitibanos d’antanho.
Noites de espetáculo que, feéricas, existiram um dia, embora a distância, e a melodia da distância no tempo, feito uma brisa nas dobras da História. Que o digam D. Silvina, 119, suas cachaças, seus namoros, seus fumos-de-rolo.
Wilson Bueno [02/03/2008]O Estado do Paraná.