A ascensão do Super-Moro

BRASÍLIA – Depois do Pixuleco e do pato da Fiesp, um novo boneco inflável animou as manifestações deste domingo. Movimentos contra o governo apresentaram o Super-Moro, vendido a R$ 10 na avenida Paulista. O brinquedo trazia nas costas a inscrição “Caça CorruPTos”.

Retratado como super-herói, o juiz virou ícone dos atos pró-impeachment. No Rio, um trio elétrico exibia a faixa “Je suis Moro”. Em Curitiba, ativistas distribuíram 10 mil máscaras com seu rosto. Em Nova York, um grupo de brasileiros entoou o coro “Moro guerreiro do povo brasileiro”.

O magistrado saboreia uma notoriedade que nem o ex-ministro Joaquim Barbosa alcançou. Ele não aparenta constrangimento com o culto à sua personalidade. Pelo contrário: em nota, agradeceu “a bondade do povo brasileiro” e, num arroubo populista, pediu que os partidos “ouçam a voz das ruas”. “Fiquei tocado pelo apoio às investigações”, disse.

A manifestação é inusitada porque um juiz não deveria buscar apoio da opinião pública nem se associar a investigações conduzidas por procuradores e policiais. Enquanto a lei não mudar, seu papel é analisar provas e decidir de forma imparcial.

Moro recebeu a capa de herói porque os manifestantes aprovam sua atuação rigorosa na Lava Jato. Mas não é só isso. Parte expressiva da rua perdeu a crença na oposição e passou a ver o juiz como o homem certo para destronar o PT. No domingo, os tucanos Aécio e Alckmin deixaram a Paulista sob vaias e xingamentos.

Ontem o magistrado ganhou ainda mais poder ao concentrar processos sobre o ex-presidente Lula. Não é exagero dizer que o desfecho da crise passará por sua caneta, o que recomendaria uma conduta acima de qualquer suspeita de parcialidade.

Na semana passada, Moro declarou que não tem ligação com partidos. Pode ser verdade, mas seria bom cuidar também das aparências. Ele participava de um jantar do grupo empresarial Lide, coordenado pelo prefeitável tucano João Doria.

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Bernando Mello Franco – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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