A contagem do impeachment de Dilma Rousseff sofreu uma reviravolta. A equação agora é da subtração governista. A especulação sobre a soma dos votos favoráveis deu lugar à curiosidade sobre quem é que vai ficar com a presidente. Esta derradeira opção exigiria do parlamentar um estoicismo que não combina de jeito nenhum com a prática política instalada pelos governos do PT desde o primeiro mandato de Lula, quando o Palácio do Planalto tornou-se um balcão de negócios. Lula, é bom lembrar, para a primeira vitória teve que adquirir um vice. Agora o prazo é curto para mudança de hábito. Para alteração de caráter o tempo é ainda mais insuficiente.
Neste governo o suborno facilitava negociações políticas de tal forma que os petistas, sempre muito laboriosos, até tentaram sistematizar a prática com o mensalão. Pra sorte do país, foram pegos pelo Ministério Público, mas não é que nem assim tomaram vergonha na cara? O sistema corrupto teve continuidade com o petrolão, mesmo depois da cúpula do PT ter ido em cana pelo crime anterior. O esquema só destrambelhou de vez com a ação do MP, da Polícia Federal, e para o azar do partido do 13 desta vez teve também o trabalho árduo e rigoroso de um juiz honesto.
É uma ironia da história, como se diz, que para sua defesa num momento crucial de sua existência o PT tenha que atuar dentro da política de balcão de negócios sustentada por anos pelo próprio partido do Lula. A relação sempre foi do “quem dá mais”. E nesta hora da verdade, Lula e seu partido nada tem pra dar. E muito menos a presidente. Na economia, por efeito da própria incompetência, só podem oferecer sangue, suor e lágrimas, uma oferta impossível de ser aceita por uma base política acostumada à sombra e água fresca, de preferência debaixo de um coqueiro que dê coco.
E nessa maneira de fazer política, todo lucro sofre sempre a avaliação de custo e benefício, na qual o voto popular tem um peso muito influente. Entre o benefício do presente e o custo no futuro a desproporção pode ser brutal. Pelo voto contra o impeachment o parlamentar terá depois que arcar com o desprezo do eleitor brasileiro, com sua imagem política exposta neste ano de eleições municipais, com um efeito negativo de validade até o ano de 2018, quando todos terão de renovar os mandatos. Quem será que vai aceitar este negocião com Lula e Dilma?