A dura intimidade de um alcoólatra terminal

“Habitué”, a nova montagem da Dezoito Zero Um –
Companhia de Teatro, fala sobre o alcoolismo com uma
linguagem contemporânea.

Uma mesa de bar, um copo americano e uma mente perturbada. Estes são os principais elementos que compõem a atmosfera da peça “Habitué” que estreou dia 9 de setembro no Mini Auditório do Teatro Guaíra. Num tempo indefinido, um homem conversa, de uma forma quase esquizofrênica, com vozes que habitam inadvertidamente a sua cabeça e, ao tentar reconstruir a sua trajetória, é tragado por um turbilhão de questões morais mal resolvidas.

No elenco, Otávio Linhares faz um quarentão solitário que busca na bebida um refúgio diante de um mundo infestado pela mediocridade e pelo tédio das horas. Seu objetivo maior é fugir a todo custo da rotina imposta pela sociedade. Seu maior medo é de acabar como o seu Paulo, o dono do bar que ele freqüenta: inválido e com uma doença terminal.

Maia Piva faz a consciência deste alcoólatra. No espetáculo, a atriz chega a interpretar até quatro tipos de vozes diferentes. Um amigo, uma amante, a ex-mulher e a filha. Para dar este efeito de polifonia, a equipe da Dezoito Zero Um trabalhou com texturas de voz e efeitos de luz. “O rosto da Maia aparece de maneira estratégica no palco e redobramos os cuidados com relação ao seu corpo. Cada ‘voz’ possui uma partitura de gestos diferente. Uma hora, assistimos apenas a silhueta dela, em outra apenas o movimento de suas pernas. A idéia é que o público complete as imagens que são colocadas ali”, diz Alexandre França, diretor e autor da obra.

Para dar a impressão de duplo, a companhia trabalhou também com gestos coreografados e com peças de figurinos parecidas umas com as outras. O objetivo é que em alguns momentos do espetáculo, a platéia tenha a sensação de estar diante de um jogo de espelhos. Segundo Maia “a intenção é que a personagem e a sua consciência formem um só organismo humano. Afinal, nós somos habitados por muitos”.

Seguindo a tradição da companhia de utilizar músicos locais em seus espetáculos, a canção tema de “Habitué” ficou por conta da banda Confraria da Costa, que influenciada por artistas como Tom Waits, faz um som underground já conhecido pelos freqüentadores de bares curitibanos. “O som que eles fazem tem tudo a ver com o linguajar sujo das personagens: este clima de desolação que geralmente encontramos em bares decadentes”, diz Alexandre.

O silêncio também é parte integrante para o funcionamento do texto. Segundo o ator Otávio Linhareshá momentos em que a personagem sai para ir ao banheiro ou para pegar mais uma cerveja e a platéia irá se deparar com um espaço vazio, bem parecido com o de uma pessoa acostumada a beber sozinha”.

Serviço
Habitué.
Com Otávio Linhares e Maia Piva. Texto e Direção: Alexandre França. Local: Mini Auditório do Teatro Guaíra. Data: De 9 à 26 de setembro de 2010. De quinta à sábado às 21h00. E domingo às 19h00. Ingressos: R$ 10 inteira e R$5 meia-entrada.

Contato:
Beth Moura
Verdura Produções Culturais
Produtora Cultural
41 3598 2142
imprensa.verduraproducoes@gmail.com

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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