A Casa Civil é um ministério que serve para evitar vexames como este da nomeação da filha do chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, em um cargo de gerência na Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS). Na noite desta quarta-feira ela desistiu de ocupar a função, porém já foi criado o estrago político.
Claro que o perfil de um ocupante da Casa Civil exige que ele saiba de antemão que um negócio desses não poderia acabar bem. O próprio processo acarreta tamanho desgaste que nem com a desistência pode ser resolvido. Este é um caso em que voltar atrás não passa um atestado ético: o que fica é a imagem do flagrante de ilegalidade.
A nomeação sequer deveria ter sido cogitada, pelo simples fato de que a moça é filha do ministro Braga Netto. Embora o governo Bolsonaro já tenha um histórico lamentável em matéria de verificação de currículo, nem vem ao caso suas referências profissionais, que não eram boas. Ela é formada em Design e o profissional que seria retirado do cargo é um servidor formado em Direito com especialização na FVG. O salário é de R$ 13 mil.
O fato da moça ser filha do ministro já teria encerrado a questão, ou melhor, nem teria começado se o ocupante da Casa Civil fosse mais capaz. Mas o erro é ainda mais crasso. Parece que tiveram a ideia da possibilidade de um golpe de esperteza. Havia um nepotismo cruzado. A indicação foi feita por um irmão de um subordinado de Braga Netto na Casa Civil.
Nem se pode falar em volta dos velhos hábitos, pois com Bolsonaro eles nunca saíram do Palácio do Planalto, mas o caso é de um amadorismo constrangedor, com esta falta de habilidade até para maracutaias, que já é uma marca indelével do governo Bolsonaro. Quem sabe, agora com a “espertise” do Centrão talvez possam dar ao menos uma guaribada nos malfeitos.
Um bom chefe da Casa Civil não permite que algo do tipo sequer comece, muito menos chegar ao ponto que chegou. Não é novidade no governo de Jair Bolsonaro, mas o erro prosperou. A nomeação já estava para ser assinada quando tiveram que voltar atrás. Mas a verdade é que na política, como na vida, voltar atrás em certas atitudes serve apenas para demonstrar a falta de jeito para o inconfessável.