A fraquejada de Bolsonaro

Bolsonaro acha que bajular Trump é o suficiente para ganhar uma linha direta com a Casa Branca

Não tem vídeo, nem áudio, apenas o relato de diplomatas ao jornalista Lauro Jardim de que Jair Bolsonaro, ao encontrar Donald Trump, depois de discursar na ONU, teria dito: “I love you”. É, eu sei, mas calma, piora.

O americano apenas diz: “bom te ver de novo”. Algo como: “obrigado, valeu, qualquer coisa te ligo”. A resposta é um clássico nas histórias de amores platônicos. Nos declaramos enquanto o outro pode querer apenas uma aventura e nada mais. A diferença é que eu, você, a maioria não representamos os interesses do país.

O Brasil não precisava passar por (mais) essa humilhação. Gostaria que fosse invenção. Mas em poucos meses já conhecemos o nível de idolatria da primeira-família por Trump, portanto, além da possível veracidade, mandar um “I love you” totalmente fora de contexto revela mais do que pouca intimidade com outra língua. É subserviência.

Em novembro, escrevi que Eduardo Bolsonaro, ao aparecer com um boné escrito Trump 2020 numa viagem aos EUA, tinha vestido não apenas um souvenir, mas a carapuça de que o governo de seu pai seria capacho dos EUA em relação a temas importantes e a outros por pura jequice.

Jair acha que transformar Eduardo em embaixador e bajular Trump em discursos é o suficiente para ganhar uma linha direta com a Casa Branca e, em seus delírios, beneficiar o país, depois de alimentar a sua vaidade.

Trump trombou com um processo de impeachment que tem grande chance de não dar em nada. Mas, depois do discurso de Bolsonaro, congressistas americanos protocolaram algumas medidas que podem melar essa relação e prejudicar o Brasil.

Fraquejada, Bolsonaro, é dizer “eu te amo” em começo de relacionamento sem saber se é namoro ou “one night stand” (anota aí, uma ficada de uma noite e nada mais). Se é para ser brega, que mandasse logo um “saudade do que ainda não vivemos”, inspirado no seu apoiador Neymar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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