O presidente mais uma vez desembestou. Ainda que indignado, ainda que pateticamente assumindo que perde o sono com tais acusações, ainda que com o justo sentimento da injustiça, ele tem que mostrar serenidade, ainda que fingindo, ainda que ao preço de ansiolíticos, antidepressivos ou estabilizadores de humor. Porque, como demonstrou em perfeita imagem o ministro Celso de Mello, um chefe de Estado tem compromisso com a gravitas, a solenidade do cargo, o equilíbrio uma de suas expressões.
Bolsonaro foi o mesmo de sempre, o tenente desabrido e incontrolável. Depois de acenar com a gravitas no pedido de desculpas ao STF pela fábula do leão e das hienas, agiu como o homem comum ofendido. Ele não é homem comum, é presidente, quando dorme, quando tem insônia, quando é ofendido e quando é elogiado. Só ditadores, coisa que – ainda – não é, usam o tom de sua fala de ontem. Um presidente, como os reis da Idade Média, é duas pessoas, a pública e a privada, uma hierática e formal, a outra, mais ou menos.
O vazamento sobre o inquérito tem, evidente, as digitais que o presidente apontou, ninguém ignora. Bons conselheiros mostrariam ao presidente a utilidade do comportamento de mestres nesses assuntos, como José Sarney e Michel Temer, de reverter o quadro, apontar a falha dos responsáveis. Um presidente, ainda que acossado como Bolsonaro – que faz tudo para ser e merecer -, deve impor-se controle. A menos que queira desencadear uma reação que nos leve ao limite, à guerra civil.
Nosso presidente foi militar, estudou nas Agulhas Negras, sabe matemática básica e regras elementares de português, mas da história do Brasil só retirou a interpretação unilateral e ideológica fornecida em sua academia. Nada de insistir aqui que a história se repete, que ao fim e ao cabo é figura de retórica. Mas não custaria ao presidente – ou alguém para ele – investigar também em que medida comportamentos como o que exibe desde que assumiu levaram ao desastre, tanto do político quanto do Estado.