CURITIBA disputou o World Smart Cities Award e venceu como a cidade “mais inteligente do mundo”. Superou Barranquilla, Colômbia; Cascais, Portugal; Izmir, Turquia; Sunderland, Inglaterra; e Makati, Filipinas. A noção de inteligente é fluida, mas o prefeito Rafael Greca encarregou-se da explicação, desta vez sem os rompantes superlativos, infantis e provincianos, sem exaltar os curitibinhas, no seu indefectível requebro freudiano: o prêmio veio pelo desenvolvimento sustentável e os programas de inovação da cidade, comparativamente aos competidores, o que não diz muito do galardão.
Os juízes do WSCA, se vieram a Curitiba, não visitaram os bairros sem calçamento, com grama no local destinado às calçadas, ainda com esgotos a céu aberto, nem se detiveram no trânsito caótico, perigoso e barulhento. Devem ter sorvido o café com geleia de laranjas que MinhaMargarita colhe no Sítio São Rafael das Laranjeiras. Caso abalassem a Campo Magro veriam verdadeira inteligência curitibana. Que não interessa exibir ao mundo e exaltar em painéis do centro da cidade, em palavras sopradas pelo prefeito aos publicitários pagos pela Prefeitura.
A verdadeira inteligência aproveita fezes para a salvação da lavoura. Mais que isso, essa inteligência vem de pobres semialfabetizados e articulados por movimento de esquerda. Campo Magro não é Curitiba, claro, mas a verdadeira inteligência está ali, exato em terreno da prefeitura. Trata-se da Comunidade Nova Esperança, do MST, onde famílias residem (sem titulação pelo poder público) e lá desenvolvem experiência inovadora, sustentável, ecológica e criativa. Com materiais reciclados fornecidos por outra ocupação do MST, consultoria e apoio técnicos da UFPR e, na falta de programa de saneamento oficial (seguramente retaliatório pela ocupação), as famílias não vertem seus esgotos na natureza, nem criam cloacas que possam atingir o lençol freático. As famílias desviam o esgoto e, com métodos naturais, não poluentes, produzem adubos para as próprias lavouras de subsistência. Essa é a verdadeira inteligência, artesanal, em pequena escala, mas melhor do que a nenhuma que o Estado se omite de oferecer ou aguarda o momento para licitar ou explorar.