Pode chocar, mas o pior daquilo não é a ilegalidade. É o fiasco, continuado, completo, rematado e absurdo, que começa no tête-a-tête e resulta nas condenações. Antes de massacrar juiz e procurador deve-se perguntar: eles falsearam as provas, as sentenças não foram confirmadas no tribunal? No momento é o espetáculo, a encenação do escândalo.
O que fizeram é reprovável? Sim, mas diante dos precedentes, é pecado venial de juízes. O juiz deu força à acusação sem contrapartida isonômica à defesa, como recriminam agora os ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes (que mantinha encontros com Michel Temer quando este era processado, sem isonomia com Rodrigo Janot, que denunciava Temer).
Um caso explosivo, “nitroglicerina pura”, como disse Fernando Collor sobre o romance de sua ministra da Fazenda com o ministro da Justiça. A afobação de Moro e Dallagnol dará força aos ministros do Supremo para acabar com a prisão na segunda instância – levando a nada todo o trabalho depurador da Operação Lava Jato.
Juiz e procurador agiram no modo “faça-se justiça ainda que o mundo pereça”, como criticavam os romanos. Os dois tentaram acabar com o mundo da corrupção. As inconfidências e imprudências telefônicas, mais a ambição de Moro em ser ministro, levam o mundo da corrupção e aliados à tentativa de acabar com o mundo do juiz e do procurador.
No momento o Brasil vê-se novamente diante daqueles impasses de sua história: um passo adiante, dois passos atrás. A Operação Lava Jato foi um avanço, expôs a corrupção e a impudência, o despudor dos políticos. Agora esses mesmos políticos levam o Brasil a recuar os dois passos de sempre: o descrédito da Lava Jato e o “resgate” daqueles nela apanhados.