Fala sobre a guerra na Ucrânia escancara megalomania e falha ética na verborragia de Lula
Assim como o peixe do provérbio, chefes de Estado morrem pela boca. No Brasil, estamos acostumados a mandatários proferindo impropérios, seja na forma ou no conteúdo.
Jair Bolsonaro produziu disparates, alguns criminosos, em escala industrial: de “não sou coveiro”, menosprezando mortes em meio a uma pandemia, a “ela queria dar o furo”, comentário de duplo sentido para agredir Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha.
Dilma Rousseff também tinha a língua solta, com falas que causavam constrangimento na audiência pelo aspecto nonsense e por comicidade involuntária. Como esquecer a tentativa de exaltar o feminismo —que, na verdade, só expôs ignorância— ao cunhar “mulheres sapiens”?
Não à toa, é fácil sentir saudades das mesóclises de Michel Temer.
Lula também segue a tradição de verborragia abilolada aliada à megalomania. Afinal, é preciso boa dose de pedantismo para afirmar peremptoriamente que “os livros de economia estão superados”.
Em relação à guerra na Ucrânia, o presidente disse que “quando um não quer, dois não brigam”, insinuando que o país invadido é culpado pela invasão. Ao tratar dos territórios ocupados por Putin, o mandatário petista afirmou que a Crimeia poderia ser cedida à Rússia e que Zelenski, presidente da Ucrânia, “também não pode querer ter tudo”.
O tom pernóstico e antiético do discurso não escapou do olhar internacional. No Twitter, comentaristas estrangeiros sugeriram, ironicamente, que Lula oferecesse o estado da Bahia à Portugal.
Mas o falatório do presidente não se deve à insanidade ou senilidade. No fundo, está um antiamericanismo juvenil datado e a defesa ao imperialismo russo —Celso Amorim foi ao Kremlin apenas três semanas depois da emissão da ordem de prisão por crimes de guerra contra Putin pelo Tribunal Penal Internacional.
Lula deveria usar a língua para articular apoio a reformas necessárias ao país, não para lamber botas de governante autocrata.