E tem uma espécie de dialeto único, todo próprio da cidade bonita pela própria natureza, entre o São Paulo do sudoeste e o estado sulino do Paraná. Mistura nesse “Itararé-ês” de falações, resquícios do gauchês largado (passagens de tropas, revoluções, inclusões logísticas), o cor-de-rosa polaco catarinense que se canta no falar como se salmasse a palavra, o paranaense que mingua caipirices de um brasileuropeu, alguns fragmentos letrais (quemultiplicadores se tornam rueiros) de italianos detravessados (imigrações), entre ciganos, húngaros, alemães, suecos, turcos e outros juncos viajosos de tantas diáspora extracontinentais.
Por isso Itararé tem um variado elenco de repertório composto de diálogos errantes, falações de variantes etnografias, em falácias loquazes de dialéticas exuberantes, mais os chamados ditos populares, os tantos cantares poéticos; contações quase quelíricas e até expiações letrais risantes. Itararé de divisa (e por isso mesmo também), tem lastro crítico-criativo, entre coivaras de ramos lingüísticos e sapés de linguagens com prosopopéias do chamado “contar palha” mesmo. Além de muitos causos e contentezas de variadas pernas e sulfixos, muito das barulhanças do chamado “ouvir-dizer”. Exemplos como forfé, guaiú, tardiscando, faiaca, de-vereda, conheceu papudo, pelames, ir de bubuia, saltei de fininho. Já pensou? Passei a vida inteira catando as linguagens pegajentas e popularescas de Itararé, com minha bateia de granizos. Um mosaico letral ridente. Acho que o itarareense tem linguagem carregada como quiabo na pedra… A bem dizer, escorregadia como água, diz-que-diz-que; bem prosaica no dia-a-dia, pitoresca e barulhada, quase fala-cantoria, louvação.
E também nesse proseio próprio de divisa geocultural (?), separa os confeitos das falas na língua, como se um macadame de conversar em variadas raízes exóticas abrasileiradas, entre moendas e engenhos, feito linguagem líquida. Antes de esmerilhar o sujeito, sapecar o predicado e retumbar o verbo, invertendo com galanteio um e outro, pega a palavra para o varejo. Conhece do oficio. Que serpenteia nas passagens do dizer-se. Aliás, falando sério, o Itarareense é muito bom de bico. Conta papo afiado como garbo, saracoteia diálogos, re-oxigena serelepe as entoações ardidas.
Na conversa fiada alumia os parafusos dos verbos e vocábulos, quando não inventa de inventar misturanças que redundam em neologismos, e no palavreio nutriente-cultural sapeca histórias do arco da velha (e do álcool da mais-valia sobrevivencial – ai de ti boemia de Itararé!). O “falar Itararé” é isso: um itararé-ês. Com falas como andar-de-segura-peido, calcanhar-de-frigideira e outras palavras descruzadas, o Itarareense deixa saudades e flores por onde passa, e nesse andarilhar seresteiro (e noiteadeiro) deixa fluir o seu vareio de linguagem própria. E entre mentiranças, claro, barulheiras sonoras, causos hilários, leva e traz o escarcéu líquido do ser de si, empanturrando bares e viagensde entintadas histórias pra boi dormir.
O Itarareense deita falatório, e, com releturas palavreiro de divisa (com suas peculiares especificidades), como é, está, permanece, seduz e registra. Acontece. Traz Itararé dentro de si, como um signo ficante de enluo e orgulho-raiz. Entre a imaginação fértil e as memórias inventadas, entre o linguajar sério-luso e o lusco-fluxo do tabuleiro das linguagens, depura o arame de gramáticas bonitas, alegres, com paginações retumbantes. Aliás, Itararé é berço esplêndido, e, falando sério, a bem dizer, a fala do Itarareense é centopéica.