A minha PEC: se deputado pode ser subornado, por que o eleitor não pode?

Diário, consegui aprovar a minha PEC! Isso aí pode me salvar de levar um nabo já no primeiro turno da eleição.

Se deputado pode ser subornado, por que o eleitor não pode? Só não sei como é que vou chamar a PEC.

O Guedes, quando era contra ela, chamava a bagaça de “PEC Kamikaze”, porque ia acabar com as contas públicas. Mas agora ele diz que tudo bem. O Guedes muda mais de opinião que aqueles números da bolsa de valores.

Também tem quem chame de “PEC do Desespero”, porque ela só aconteceu porque eu estou desesperado com a possibilidade de perder a eleição e ter que fugir do Brasil.

Tem uns que chamam de “PEC do Vagabundo”, porque dizem que eu não trabalhei durante todo o governo e só agora tô fazendo alguma coisa pelos pobretões.

E uns aí preferem “PEC da Emergência”, porque a gente teve que dizer que o país estava em emergência pra driblar o teto de gastos. Mas não tem nada nesses dias que não tinha antes. A emergência sou eu, kkk!

O que importa é que eu vou dar R$ 600 de auxílio, dobrar a ajuda no gás e dar R$ 1.000 pros caminhoneiros, porque eles podem parar o Brasil e aí eu me ferro. Isso aí deve me dar uns pontinhos e impedir que eu perca no primeiro turno.

Pra aprovar a PEC, teve sessão de um minuto de duração e o Lira até inventou regra nova no Congresso. Esse aí é que nem o juiz de ontem no jogo do Santos: é chamado pelo VAR, tá na cara que o Gil fez dois pênaltis, um por cima e outro por baixo, mas ele diz que não foi nada.

Diário, é bom deixar claro que eu sou contra qualquer ajuda pros zés-manés. A minha filosofia é “cada um que se vire”, pô. E tanto eu penso assim que em 2.000 fui o único deputado que votei contra o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.

E eu também era contra o Bolsa Família, tanto que disse que ele devia acabar, “porque, cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT”.

Mas, agora, como eu quero o voto dos “pobres coitados”, eu sou a favor, kkk!

Olha, Diário, eu sei que o povo vai se ferrar no ano que vem por conta do desequilíbrio fiscal, por conta da queda de arrecadação de ICMS, etc… Mas e daí? Eu não sou povo.

Roberto José Torero

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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