“Permitam-me, como primeiro ato como ministro, dizer o óbvio, o óbvio que, no entanto, foi negado nos últimos quatro anos”, disse o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, num dos trechos do discurso de sua posse. Ele se referia ao reconhecimento da existência e valorização de minorias marginalizadas no governo Bolsonaro.
Almeida está certo ao acenar a este público e ao mostrar a importância de reafirmar o óbvio. Por um tempo, não sei avaliar quanto, será necessário dizer o óbvio, o axiomático, o indubitável, o inequívoco, o insuspeito. Como país, precisamos devolver ao óbvio o seu lugar incontestável, resgatar valores, compromissos e avanços civilizatórios que passaram a ser negados ainda que nos parecessem indiscutíveis.
O último governo substituiu o óbvio pelo terraplanismo político e científico. Instalou a república da barbárie, regida por um misto de insanidade e negligência. Juntamente com a democracia, temos que restabelecer o óbvio. Para isso, temos que olhar para nossas feridas profundas, encarar nossos piores defeitos e enfrentar nossas diferenças. Me parece óbvio que a formação de um ministério tão diverso foi um bom primeiro passo.
Obviamente, diversidade tem limite. A ministra do Turismo, conhecida como Daniela do Waguinho, tem vínculos com a família de um ex-PM, condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia na Baixada Fluminense. E isso não é novidade para ninguém. Deveria ser óbvio que não adianta chamar Bolsonaro de miliciano e manter a sombra da milícia carioca no Planalto.
Óbvio, também, que é cedo para falar em reeleição, como fez o ministro da Casa Civil, Rui Costa, em entrevista ao Roda Viva. Tanto não é óbvio que nesta terça (3), o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, repetiu a aposta. É óbvio que o Brasil precisa de um projeto de país. As declarações a essa altura soam apenas como projeto de poder.