Rubem confessa o assombro dele com o nascimento de coisas tão lindas e mansas de uma enorme explosão ocorrida há 15 bilhões de anos, o Big Bang descoberto pelos cientistas: “Do caos nasceram ordem, vida e beleza,” – registra – “da mesma forma como uma bolha de sabão sai, perfeita, do canudinho que o menino sopra”.
E foi exatamente aí que ele se assustou, temendo que a bolha, tão bonita e perfeita, estoure antes da hora. Sabe o leitor por quê? Por essa desgraça que damos, animadamente, o nome de “progresso”.
— Todos os candidatos a presidente, todos, indistintamente, de direita e de esquerda, prometem “progresso” – sublinha o nosso Rubem, acrescentando: “Mas nenhum deles promete preservar a natureza. Qualquer menino sabe que a bolha de sabão é frágil. Não pode crescer sempre. Se crescer além do limite, ela estoura. E a nossa Terra é precisamente uma bolha frágil que navega pelos espaços vazios, bolha onde apareceram, miraculosamente, as condições para que a vida viesse a existir. Mas, se essas condições desaparecerem, a vida deixará de existir”.
Como de costume, continuo concordando com Rubem. E a razão dessa concordância é explicada por ele mesmo, em outro pensamento, quando responde por que se gosta de um autor: “Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo, tem-se a experiência de comunhão”. Por isso, o leitor brasileiro tanto amou e continua amando, como eu, Rubem Alves. Parafraseando as suas próprias palavras, tão carregadas de verdade e sabedoria, ao lê-lo, nós nos lemos. Melhor: nos entendemos. “Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo mundo” – enfatizava ele.
Rubem sempre se disse preocupado com o planeta Terra, com os males que ele tem sofrido. E foi direto ao xis da questão:
“Muitas críticas justas já se fizeram ao capitalismo, de um ponto de vista ético, em sua tendência de produzir pobreza e concentrar riqueza. Mas raramente se fala sobre o capitalismo como um sistema autodestrutivo que, para existir e gozar de boa saúde, tem de estar num processo de crescimento constante: mais empregos, mais trabalho, mais devastação da natureza, mais monóxido de carbono no ar, mais lixo – seis bilhões de quilos de lixo por dia! –, mais exploração dos recursos naturais, mais florestas cortadas, mais poluição dos mananciais… Até quando a frágil bolha suportará?”
Difícil responder quando temos entre nós, lançando bombas uns nos outros e matando impiedosamente gente inocente, gente com Vlademir Putin, Volodymir Zelensly, Benjamin Natanyahu, Ebrain Raisi, Joe Biden e outros luminares do Hamas, Fatah e assemelhados, em busca de territórios, sangue e poder.
Resta-me apenas – o que fazer? – pedir a proteção divina, quem é crédulo, ou sugerir ao amigo leitor que, se ainda não conhece, procure conhecer o mais breve possível a referida e valiosa obra de Rubem Alves. Com ela, certamente, ficará um pouco mais iluminado e, em vez de preocupar-se com o mercado, com os canalhas que nos governam, com o progresso e bobagens que tais, passe a dar mais importância aos campos verdes, ao céu azul, aos beija-flores, aos rios que escorrem entre as pedras, ao vento que balança as arvores, às flores dos jardins – coisas que tanto encantavam Rubem Alves e devem encantar a todos nós, habitantes desta maravilhosa e frágil “bolha de sabão”.
- S. – E a fala de Luiz Inácio, comparando o bombardeio de Israel ao território de Gaza ao Holocausto? Infeliz, sem dúvida. Tal qual a decisão de Benjamin Natanyahu, considerando Lula “persona non grata”. Não creio que o brasileiro tenha perdido o sono por isso. Até porque o que acontece na Faixa de Gaza é um autêntico genocídio, que está matando deliberadamente civis, mulheres, crianças e idosos, destruindo hospitais, escolas e creches. Pode não ser o Holocausto, e não é, mas genocídio – definido pelo Larousse como “extermínio sistemático de um grupo humano nacional, étnico ou religioso” – é. Além do mais, que tamanho tem o atual primeiro ministro de Israel para admoestar o presidente do Brasil?! Ele deveria lembrar que Israel só existe pela atuação de um brasileiro, Oswaldo Aranha, então presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas.