A nossa Mulher-Maravilha

Ruy Castro – Folha de São Paulo

A cada uma ou duas gerações, os americanos ressuscitam a Mulher-Maravilha. É justo. Mas só o fato de ela ser periodicamente exumada revela que, como super-heroína, Mulher-Maravilha nunca se firmou. Leitor fanático de gibis nos anos 50, não me consta, por exemplo, que ela tivesse revista própria no Brasil -se tivesse, eu a colecionaria, como fazia com as de Mandrake, Fantasma, Capitão Marvel e outras 30.

O seriado de televisão com Lynda Carter e que ficou no ar, na TV Globo, de 1975 a 1979, sim, justificava uma espiada ocasional -não pela personagem, mas pela atriz… Por causa do sucesso desta série, um especial mensal que a Globo pôs no ar em 1978, “Brasil Pandeiro”, continha uma paródia da Mulher-Maravilha -a Maria Maravilha, com Betty Faria vestida como a original, gostosa e empoderada até dizer chega, mas vivendo os contratempos de uma brasileira comum.

Ou os que a censura da ditadura deixava passar. Num dos programas, Maria Maravilha ficava horas na fila do INPS, de botas, com dor nos pés. A censura vetou. Em outro, Maria Maravilha penava para preencher sua declaração do Imposto de Renda. Idem. Os dias eram assim. Restava-nos caprichar nas sequências de ação, em que Maria Maravilha derrotava os vilões comandados por Hugo Carvana.

“Brasil Pandeiro”, dirigido por Augusto Cesar Vanucci, ficou um ano na grade. Continha fabulosos números de dança, a cargo da própria Betty, e convidados como Elza Soares, Ney Matogrosso, Clara Nunes, muitos mais, acompanhados pela baita orquestra da casa. Ronaldo Bôscoli escrevia a parte musical e eu, as aventuras de Maria Maravilha.

Pelo que sei, as fitas contendo “Brasil Pandeiro” não existem mais no arquivo da Globo, nem em lugar nenhum. Uma memória a menos. Quem vai acreditar que, um dia, um programa como esse existiu?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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