A história é velha e tem chances remotas de convencer autoridades que investigam o caso. Não só é velha, como já foi usada por outro presidente em apuros.
Em 1992, Cláudio Vieira, secretário particular de Fernando Collor de Mello, surgiu com a história que havia tomado um empréstimo de 3,75 milhões de dólares no Uruguai para a campanha eleitoral de 1989. Havia até barras de ouro e um doleiro no caminho. Era uma forma de justificar os gastos de Collor e evitar o que todos sabiam, que o então presidente recebia dinheiro de seu ex-tesoureiro, Paulo César Farias. Collor era investigado por uma CPI e sofria um processo de impeachment.
A Operação Uruguai, como ficou conhecida, foi montada às pressas, com documentos duvidosos, e não convenceu ninguém. Wassef tenta convencer a todos com uma versão contemporânea, uma Operação Miami.
Segundo ela, ele foi aos Estados Unidos por outro motivo aleatório e decidiu comprar o relógio por livre e espontânea vontade, com o próprio dinheiro – 49 mil dólares – para entregar ao Tribunal de Contas da União (TCU), que reclamava a devolução dos presentes sumidos.
Wassef tenta, com isso, dizer que o dinheiro usado para a recompra não era de Bolsonaro – pois isso confirmaria que o valor da venda foi entregue em espécie ao ex-presidente, como indicam diálogos captados pela PF.
Como a Operação Uruguai, a Operação Miami também foi montada às pressas. Como fez Cláudio Faria em 1992, Wassef tem de assumir a responsabilidade por algo para salvar o chefe. Wassef teve de desmentir a si mesmo: antes havia dito que nunca havia visto o tal relógio; agora diz que não só o viu, como o recomprou.
Diferente de 1992, quando havia menos tecnologia, desta vez a Polícia Federal sabe por trocas de mensagens que, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) cobrou a devolução dos bens que Bolsonaro levou e Cid vendeu nos Estados Unidos, assessores de Bolsonaro correram a recomprá-los.
A Operação Uruguai não convenceu ninguém – tanto que Collor renunciou e foi cassado. A Operação Miami de Wassef tem poucas chances de convencer também. Bolsonaro já não é mais presidente, não pode ser cassado – mas pode ser preso. Coincidência histórica, em maio seu colega Fernando Collor foi condenado pelo Supremo a uma pena de oito anos por corrupção e pode ser preso em breve.