No depoimento que deu à Polícia Federal, na noite desta quinta (2), o senador Marcos do Val confirmou que Jair Bolsonaro pediu uma resposta sobre a conspiração golpista que havia sido apresentada a ele em reunião secreta no Palácio do Alvorada no dia 9 de dezembro do ano passado.
“O único momento em que o ex-presidente se manifestou foi quando o depoente disse que precisaria de alguns dias para dar a resposta, quando o ex-presidente respondeu que o aguardaria”, afirma a PF.
Ainda segundo a polícia, Do Val afirmou em seu depoimento que Bolsonaro permaneceu em silêncio durante toda a explanação da conspiração pelo então deputado federal Daniel “Surra de Gato Morto” Silveira, não demonstrando contrariedade ou negando o plano.
Ou seja, pelo relato, Bolsonaro sabia exatamente o que havia sido proposto. O silêncio, mais do que prevaricação, demonstra cumplicidade. O telefone celular do senador foi apreendido e as trocas de mensagens com Silveira vão ser analisadas.
O objetivo, segundo o exposto por Marcos do Val, era “invalidar as eleições, manter o ex-presidente no poder e prender Alexandre de Moraes”, grampeando-o e tentando fazer com que ele dissesse algo que poderia ser usado contra ele. O senador alertou o ministro sobre isso na época, mas se negou a repetir a história em um depoimento formal.
Não há possibilidade de que Moraes seja considerado suspeito para julgar o caso por ter sido alvo de uma tentativa de conspiração. Aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal instalou inquéritos como o que analisa os atos antidemocráticos exatamente por conta de ataques a membros da corte.
Contudo, esse plano tipo “teste de fidelidade”, “pegadinha do Ivo Holanda” ou, nas palavras de Moraes, uma “Operação Tabajara”, relembrando o humorístico Casseta e Planeta, por mais tosco que seja, fornece elementos para conectar o ex-presidente ao golpismo pós-eleitoral.
O depoimento de Do Val é o bastante para arrolar o ex-presidente como investigado em crimes contra o Estado democrático de direito, autorizando diligências contra ele, incluindo quebras de sigilo. Aliados do presidente dizem que não veem nada de errado no que aconteceu. Ótimo, deixem então a Polícia Federal investigar.
Se estivesse no Brasil, uma prisão preventiva poderia, inclusive, ser decretada para que ele não atrapalhasse o curso das investigações. Pelo menos, seria assim se o réu fosse mais pobre e menos famoso.