Curitiba, metafísica e fisicamente, ignora o corpo, como o Sul, em geral. O trabalho é uma “espiritualização”, uma abstratização do corpo. O trabalho deforma o corpo, que só o esporte faz florescer. Curitiba nunca foi importante, esportivamente. Esporte é jogo, atividade lúdica, tudo aquilo que a mística imigrante do trabalho abomina.
“Brincadeira tem hora”, os dizeres de nossa bandeira. Só que, se tem hora, não é brincadeira, evidentemente. Em lugar das velocidades lúdicas do esporte, conhecemos sua modalidade pragmática, contábil, marcatória: a pressa.
Nossa pressa é a maior quantidade de trabalho de trabalho concetrada na menor fração de tempo. O modelo, evidentemente, não são as máquinas e sua fria eficácia, eticamente neutra, biologicamente irresponsável. Mas o corpo do bicho-homem tem seus direitos, clamores e ímpetos. E o corpo se vinga, masoquisticamente, das repressões, pressas e prisões a que está submetido, em problemas sexuais, em mais tiranias…
Quem está com pressa, não tem tempo para ver a paisagem. Nem para refletir sobre o trajeto e o percurso. A pressa é a face visível do tempo maquinal e despótico, criado pelo trabalho industrial e pela burguesia européia, com a Revolução Industrial.Como tal, é inimiga mortal das liberdades do homem, entre as quais está a de produzir essas liberdades, que são os produtos culturais, poemas, visões, músicas… A preguiça é a vanguarda.
A tempo: essas tipo reflexões sobre o trabalho não se aplicam, é claro, à classe operária, cujos problemas são outros, aqueles que só ela pode resolver, historicamente, para, um dia, ter acesso à liberdade dos signos culturais.
Década de 1980