O Marechal Castello Branco, um dos líderes e primeiro presidente do regime instalado com o golpe de 1964, criticava os radicais que tentavam levantar os militares para fazer mais radical a repressão política. Falava das “vivandeiras [vendedoras de comida] que rondam os bivaques [acampamentos de tropas] agitando os granadeiros”.
Quarenta e cinco anos mais tarde, Jair Bolsonaro, uma criança na época do golpe, um militar que não se ajustou à disciplina da caserna, elege-se presidente e orienta os quartéis a celebrarem o golpe de 1964. Os militares têm celebrado, mas de forma discreta, eles sabem que há feridas ainda não fechadas pela repressão.
Ao rondar os bivaques e agitar os granadeiros, Jair Bolsonaro faz a vivandeira de plantão, papel para o qual os ministros militares e radicais civis de seu entorno recomendam contenção. Perda de tempo, o presidente é daqueles que sofre de impérvia, a trava cega, irracional, invencível, incorrigível, intransponível.
Do modo como já se desgastou a relação de Bolsonaro com o Legislativo e o Judiciário, parece que é exato o que o presidente quer: mais um golpe, com apoio daqueles que, como ele, não viveram o regime de 1964. Se ele fosse inteligente, organizado, articulado, seria a interpretação correta para sua proposta de celebrar o golpe.
Nada de subestimá-lo. Ninguém imaginava que viesse a ser eleito – até que o PT se engasgasse na gula e o destino pusesse a faca na mão de Adélio Bispo. A história tem tantos casos… Mobutu Sese Seko (na foto) era sargento no exército colonial francês, liderou golpe militar, promoveu-se a general e ficou 32 anos (1965/1997) no poder do Zaire.
Mobutu levou à miséria um país rico e ao enriquecimento de sua família pobre. O coronel Hugo Chávez tentou duas vezes e conseguiu o apoio militar para essa Venezuela que Jair Bolsonaro diz que se alimenta de ratos. Falta um certo refinamento para Bolsonaro igualar-se aos dois. Mas nem precisa. Com os filhos, os olavos, o cabo e o soldado ele chega lá.