Ruy Castro – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO – Uma conhecida minha levou o celular para o chuveiro —não consegue se desgrudar dele— e, em meio ao banho, usou-o sem querer como sabonete. Os celulares têm muitos usos, mas este não é um deles —por enquanto. Outro amigo distraído teve a gravata engolida pela impressora e esta já começava a estrangulá-lo. Foi salvo por sua secretária, que percebeu a iminência da tragédia, correu e apertou o botão de desligar. Acidentes acontecem.
Uma das histórias mais hilariantes contadas pela atriz Carrie Fisher em seu livro “Wishful Drinking” foi a de como seu pai, o cantor Eddie Fisher, já velho, mandou para dentro, com água, seu próprio aparelho para surdez, pensando que era a bolinha que tomava para dormir. Resultado: passou a noite em claro, mas escutando cada ruído de sua flora intestinal.
E minha amiga Ana Luiza Pinheiro, em adolescente, surpreendeu-se ao ver seu pai de gatinhas, no chão do quarto, tentando matar um inseto com o chinelo. “É uma aranha!”, exclamou ele. Ana Luiza aproximou-se e constatou que a aranha vislumbrada por seu pai era apenas seu cílio postiço. Os cílios postiços dos anos 70 eram assim, exuberantes.
Mas nada supera a história que me juraram ter acontecido no velório do sambista João Nogueira, em 2000. Ele era um artista muito querido, daí as cenas de comoção na capela do São João Batista. Um dos mais inconformados era um fã tocado pelo álcool, que se debruçava, descontrolado, chorando sobre o caixão. Quando as pessoas tentaram consolá-lo –”Calma, meu senhor!”–, ele se debateu e sua dentadura escapou e caiu sobre o peito de João Nogueira.
Seguiu-se um momento de mal-estar. Ninguém parecia disposto a pescar aquele objeto. E o homem não se deu por achado. Sem parar de chorar, disse, embargado: “Vai, João! Leva contigo o meu último sorriso!”.