Agamenon: “Eles Usam Black & White”

O listão dos “aprovados” da Odebrecht começou a sair. Parece até o resultado do ENEM: nos dois tem provas, a diferença é que na Odebrecht todo mundo fraudou. Eu fico me perguntando: por que é que ninguém me convidou para uma negociata milionária? Por que ninguém me deu uma ajuda de campanha? Logo eu que sempre fui picareta, desonesto e mau-caráter! O que foi que eu não fiz de errado, meu sinhô?

Se tivessem me convidado, assumiria as broncas de todo mundo, mediante, é claro, um polpudo depósito em dólares na Suíça. Sempre à frente do meu tempo, teria sido o primeiro a abrir o bico. Faria eu mesmo a minha autodelação premiada, dedurando a mim mesmo.

Hoje em dia, Bangu 8 parece mais a sede campestre do Country de Ipanema: só tem bacana. As facções da ADA, CV e Terceiro Comando resolveram adotar o sistema de bola preta para aqueles que se candidatarem a uma vaga naquele concorrido estabelecimento sócio-recreativo-penitenciário.

As joalherias H. Stern e Antonio Bernardo já estão pensando em abrir uma loja no Complexo de Bangu para poder ficar mais perto da clientela cativa. A cadeia no Brasil está cada vez mais sofisticada. A ex-primeira-dama e atual presidiária, Adriana Ancelmo, concordou em fazer um ensaio fotográfico (de frente e perfil) com o consagrado Mario Intestino. Enquanto isso, o seu esposo, o ex-governador Sérgio Penal, vai passar uma temporada em Curitiba para encontrar uns amigos. No Brasil do high society, é um incessante entra-e-sai, quer dizer, é um entra-e-não sai da cadeia.

Cadeia no Brasil está virando lugar de abonado. Pobre é que tem que chegar de madrugada na fila do SUS para morrer de enfarte. No próximo carnaval, nos luxuosos camarotes da Sapucaí, as tradicionais pulseirinhas VIP vão ser trocadas pelas pulseiras eletrônicas customizadas.

Enquanto os milionários estão na cadeia, o Brasil, que não tem dinheiro nem para pagar os aposentados, ainda quer fazer uma reforma na Previdência. E o pior é que, para fazer essa obra de reforma, vão chamar as mesmas empreiteiras de sempre! Por que não fazem um “puxadinho” na Previdência igual os juízes do STF vivem fazendo na Constituição?

Mas se as coisas estão ruins, a minha esperança é que um dia vão piorar. Os brasileiros só vão poder se aposentar com 120 anos completos, isso se for mulher do sexo feminino. Homens só se aposentam por tempo de serviço. Serviço fúnebre. De pelo menos 500 anos de contribuição. É a aposentadoria caveira. Isso porque, para resolver o problema do déficit público, o cidadão vai ter que pagar imposto depois de morto. Para a Receita Federal, CPF não morre. E se defunto paga imposto, também pode muito bem pagar a Previdência.

E tem mais: o cidadão só pode viver conforme a expectativa de vida estabelecida no IBGE. Se morrer antes ou depois, paga multa. Se não pagar, não vai para a cadeia, pois cadeia é coisa de rico.

o antagonista

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Sem categoria e marcada com a tag , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.