Até aonde vai a razão? Já deixamos de nos guiar pelos instintos animais? A natureza está acima do bem e do mal, disse o filósofo. Mas o homem é a natureza e não está acima do bem e do mal. Apenas os animais irracionais e os demais componentes sem vida o estão. O bem e o mal são essencialmente humanos. Embora apliquemos a todas as ações dos irracionais esses apelos. Chamamos o lobo de mau quando mata um simples cordeirinho. Um lobo simboliza o mal. Um cordeirinho simboliza o bem. O que tenta ordenar o caos é a linguagem do homem. Tentamos ordenar as plantas em famílias, os peixes em espécies, as pedras em componentes químicos, os astros em galáxias. Tudo para que o caos desapareça, mas é em vão. Para que o caos desaparecesse, teríamos todos que aprender tudo.
Todas as famílias de plantas, espécies de peixes, componentes químicos das pedras, todos os componentes do universo. A ignorância é a mãe do caos. A burrice é mãe da ignorância. Na placa da sortista, ela diz que lê a sorte nas cartas, nos búzios e na borra de café. Na placa ao lado, o psicólogo se anuncia. Na outra esquina, um luminoso diz que a mega sena está acumulada em dezenas de milhões.
Spinoza, do alto do seu saber, pondera que ninguém despreza qualquer coisa que julgue ser boa, exceto na esperança de obter um bem maior. E vamos de cambulhada formando filas imensas nas lotéricas, logo depois de consultar a sortista que lê o futuro na micose dos pés. E, se nada der certo, vamos ao terapeuta que nos auxilia, segundo o jargão, a nos enxergar melhor na nossa confusão. Chaos chiaro-oscuro.
*Rui Werneck de Capistrano é técnico em caos e regiões limítrofes.