O Rio de Janeiro de então foi abalado pela chegada do novo embaixador da Itália na cidade. Não propriamente por ele mesmo, mas sim pela beleza estonteante de sua esposa, autêntica Gina Lollobrigida, Sophia Loren, Claudia Cardinale, Virna Lisi, Laura Antonelli, Monica Vitti, Elsa Martinelli, Isabella Rossellini, Ornela Mutti e Monica Bellucci tudo numa mulher só. Para completar a festa, a lindíssima embaixatriz assim que soube que o marido serviria no Brasil deu para aprender português e desceu do navio falando fluentemente o nosso idioma, assim como o marido, diligente e profissional diplomata.
Chegou o grande dia da primeira recepção do embaixador e da embaixatriz. Todo o corpo diplomático, os políticos que interessavam e a alta sociedade carioca foram convidados. Agrippino Grieco, como filho de italianos e famosíssimo personagem carioca, encabeçava a lista dos VIPS da cidade formada pelo cerimonial da Embaixada da Itália.
Quando chegava na Embaixada, vindo de táxi, ao lado estacionou o carro oficial do magnífico reitor Pedro Calmon. Trajados de fraque (exigência da casa), os mesmos se encontram, se cumprimentaram fraternalmente, começaram a conversar e seguir a fila dos convidados que subiam a longa escadaria da mansão em direção à porta de entrada, onde o sorridente embaixador e a lindíssima embaixatriz aguardavam e cumprimentavam os convidados.
Depois de algum tempo, chegou a vez dos dois apresentarem seus cumprimentos. O reitor teve preferência em relação ao professor. Quando chegou a vez de Grieco, a embaixatriz lhe dirigiu um sorriso de “Deusa Greco-Romana” e simpaticamente disse “muito prazer em conhecê-lo, Senhor Professor Grieco, que tão bem representa a inteligência de nossos antepassados nas lindas terras do Brasil!” Agrippino Grieco respondeu de bate pronto: “Excelentíssima Senhora Embaixatriz, creio que há algum engano de vossa parte, já que nos conhecemos ontem. Inclusive dormimos juntos”.
O embaixador, já tirando o paletó do fraque (sei lá se fraque tem paletó ou chamam de outro nome), exigiu lavar a honra de sua esposa com sangue. Ordenou que trouxessem as pistolas, iriam para um duelo ali mesmo, nos jardins da Embaixada. Os convidados, o reitor dentre eles, ficaram perplexos e sem reação. O embaixador bufava de raiva.
Agrippino Grieco, calmamente, como o mundo não estivesse caindo sobre sua cabeça, pediu a palavra e que o embaixador tivesse calma, iria explicar tudo. O embaixador, ainda espumando ódio, respondeu que Agrippino se explicasse.
Grieco então falou: “Na noite de ontem, ocorreu a Aula Magna na Universidade do Brasil, proferida pelo magnífico reitor Pedro Calmon, que casualmente está aqui ao nosso lado. A Excelentíssima Senhora Embaixatriz estava presente, assim como eu e numerosa plateia. No meio da Aula Magna, notei que a Embaixatriz, assim como grande número de assistentes, começou a dormir. Minutos depois eu também dormi”. O embaixador, vestindo o paletó do fraque, caiu na gargalhada e o magnífico reitor Pedro Calmou foi mais um que nunca mais dirigiu a palavra a Agrippino Grieco.
Quando morreu, Agrippino Grieco deixou mais de 50.000 livros, todos lidos, sublinhados, comentados e glosados. Ainda passava grande parte dos seus dias na Biblioteca Nacional, onde os funcionários já deixavam separados as últimas aquisições, eis que Grieco já havia lido todo o acervo que lhe interessava.
A prefeitura da cidade do Rio de Janeiro construiu a Biblioteca Municipal Agrippino Grieco no distante bairro de Engenho Novo e nomeou uma praça em sua homenagem no Méier, bairro da Zona Norte onde sempre viveu. Nelson Rodrigues, outro “gênio da raça” como Grieco, o “irmão do Maracanã” segundo o Solda, nunca viajou ao estrangeiro. Dizia que havia morado no Méier muitos anos, portanto vivendo grande parte da sua vida “no exterior”.
Agrippino Grieco escreveu e publicou 24 livros, vários com inúmeros volumes, e nunca se candidatou à Academia Brasileira de Letras, onde, por óbvio, seria rechaçado por quase todos os acadêmicos que sempre espinafrou.